Inibição, sintoma e angústia:
na psicanálise e na cultura
Oliveira - 2026



Sobre o Fórum Mineiro de Psicanálise

O Fórum Mineiro de Psicanálise, desde sua origem em 1996, tem como objetivo construir espaços de interlocução, além das fronteiras institucionais, em torno das questões relevantes para os psicanalistas e interessados na Psicanálise.


O funcionamento do Fórum possui características semelhantes às de um Cartel. O Fórum, assim como o Cartel é uma experiência! Aquilo que se apreende da teoria se experimenta de modo vivo, uma vez que, o “algo de seu”, de cada um, se faz presente, se entrelaça e se  faz nó. Nó borromeano, um laço, não sem buraco, cuja condição de existência é a singularidade de cada instância.


É este modo de operar que diferencia o Fórum de outros coletivos de trabalho que, por um lado, se conectam a partir da identificação a um modo de gozo, e por outro, não conseguem sustentar um trabalho quando, inevitavelmente, as diferenças surgem. Ousamos dizer que o Fórum, assim como o Cartel, é uma resposta a um saber fazer com isso.


“Sozinho, mas não sem os outros”, o laço que se estabelece no Fórum possibilita fazer existir um trabalho coletivo a partir do um a um, uma vez que, o que causa o laço é: o singular e não o universal; a transferência de trabalho e não o ideal; consentir em perder algo do próprio gozo porque se fez responsável pela escolha de estar aí neste lugar e não porque um líder impôs uma medida igual para todos. Enfim, um laço que se faz no um a um.

marcelo-praxedes

O Fórum é um trabalho que tem início, meio e fim, pois se desenrola ao longo de aproximadamente dois anos, em um movimento contínuo de elaboração e construção coletiva. Esse percurso se conclui em um produto final: o evento em que conferências são proferidas, trabalhos são apresentados e encontros se realizam. Ao final, essa edição se dissolve. Mas sempre fica um resto, um traço do real que insiste, convoca ao trabalho e se relança em uma nova edição, em torno de um outro tema e em outra cidade.


Assim, o tema da 1ª edição foi “O que se faz, quando se faz psicanálise?”, em Belo Horizonte, de 11 a 14 de abril de 1996. A cada edição do FMP, que ocorre bianualmente, uma cidade de Minas é escolhida como ponto de encontro.

Linha do tempo das edições - FMP

Edição Local Tema
2º FMP
Uberaba (11 a 14 de junho de 1998)
Psicanálise, pra que isso?
3º FMP
Araxá (12 a 14 de agosto de 2000)
Angústia: Escuta Geraes
4º FMP
Governador Valadares (17 e 18 de maio de 2002)
O real na transferência
5º FMP
Belo Horizonte (4 a 6 de junho 2004)
Psicanálise: Ensino, Transmissão e Formação
6º FMP
São João del Rey (02 a 04 de junho de 2006)
A ética da psicanálise: do particular ao coletivo.
7º FMP
Lavras (06 a 08 de junho de 2008)
Psicanálise e Cultura: Atualidade do Inconsciente
8º FMP
Bom Despacho (26 a 28 de agosto de 2011)
Mal-estar na Psicanálise
9º FMP
Belo Horizonte (8 e 9 de julho de 2017)
Dificuldades da Psicanálise
10º FMP
Divinópolis (12 e 13 de julho de 2019)
Ex-tranho: a Psicanálise @s voltas com Unheimliche
11º FMP
Pouso Alegre (21 a 23 de julho de 2022)
O sujeito na massa de eus
12º FMP
Muriaé (25 a 27 de julho de 2024)
Corpos, línguas e outras escritas

Após a 8ª edição, em 2011, o Fórum Mineiro de Psicanálise permaneceu interrompido por seis anos. Sua retomada aconteceu em 2017, em Belo Horizonte, e, nesse processo de reorganização, os encontros de estudos preparatórios que circularam por várias cidades de Minas Gerais foram nomeados como pré-fóruns e, desde então, passaram a constituir parte fundamental de cada edição.


A continuidade desse movimento, entretanto, foi atravessada pela pandemia. O 11º Fórum Mineiro de Psicanálise, inicialmente previsto para julho de 2021 na cidade de Pouso Alegre, não pôde se realizar na forma planejada. Decidiu-se, então, realizar nesse ano apenas os pré-fóruns, em formato on-line. No ano seguinte, em 2022, a edição se concretizou também de forma virtual, com o tema “O sujeito na massa de Eus”, a partir do texto de Freud Psicologia das Massas e a Análise do Eu.


Em 2024, o 12º Fórum Mineiro de Psicanálise voltou à modalidade presencial na cidade de Muriaé, com o tema “Corpos, línguas e outras escritas”. Os textos de Freud As pulsões e seus destinos e Caminhos da terapia psicanalítica foram escolhidos como referências fundamentais para o encontro.


Estamos organizando o 13º Fórum Mineiro de Psicanálise. Desta vez, sua casa será Oliveira, uma cidade interiorana localizada geograficamente no centro-oeste de Minas Gerais. Esta localização privilegiada de Oliveira foi o que se destacou, quando vários viajantes – geralmente com destino para Goiás – paravam por ali, originando o seu primeiro nome: Picada de Goiás. Hoje, a cidade de Oliveira conta com aproximadamente 41.000 habitantes, além do seu distrito, Morro do Ferro.


Atualmente, esse município se destaca por  suas manifestações culturais, como o carnaval, o qual comporta o bloco “Pelo Amor de Deus” e a figura do Cai N’Água – inspirado nos mascarados do Carnaval de Veneza – batizados como patrimônio cultural; a Semana Santa; e a Festa do Rosário, também conhecida como reinado e/ou congado.


A cidade também é conhecida pela sua antiga instituição psiquiátrica, o Hospital Colônia Neuropsiquiátrico de Oliveira (HCNPO), que inicialmente abrigou muitos adultos e, posteriormente, abrigou muitas crianças até o seu fechamento, quando os internos foram transferidos para o Hospital de Barbacena.


O XIII FMP será presencial e terá como tema “Inibição, sintoma e angústia: na psicanálise e na cultura”. Como de costume, serão realizados encontros preparatórios para o grande Fórum, os Pré-fóruns, que circularão pelas cidades e instituições organizadoras. As obras escolhidas para figurar como pano de fundo deste evento são dois textos de Freud: “Inibição, Sintoma e Angústia (1926)” e “Análise Leiga (1926)”.


Assim, a Psicanálise continua a pulsar nas Gerais!

XIII Fórum Mineiro de Psicanálise
Oliveira/2026

Oliveira é um lugar de chegada. A sua história é marcada pelos que chegam e descansam. Diferentemente do que era comum nessas Minas Gerais, aqui eles não vinham procurar ouro, queriam pouso. Foi assim que nasceu a tal da Picada de Goiás, já que a localidade estava na rota dos viajantes para Goiás e eles frequentemente paravam por aqui, repousavam e seguiam. Esse primeiro nome dado a Oliveira revela como a cidade desde o início sempre recebeu os que se fazem seus. Apesar do caráter passageiro dessas paradas, algo se fundou. Os que foram, não iam mais os mesmos (quantos lá fora lembram Oliveira com carinho); os que ficam dão frutos. E, afinal, não é Freud (1916) quem nos diz que “A transitoriedade do belo não implica sua desvalorização”. Pelo contrário, aumenta o seu valor. O valor da transitoriedade é o de uma escassez no tempo”?

Foi também entre idas e vindas que Oliveira figurou na rota do Holocausto Brasileiro. O trem-dos-loucos ia e vinha, vinha e ia. Aportava aqui, deixando muitos adultos durante anos, depois, muitas crianças, durante muitos outros anos, até um dia em que veio, buscou mais de trinta crianças e levou para o Hospital de Barbacena e nunca mais trouxe loucos para cá. Ponto triste da nossa linha do tempo, mas importante de recuperar. Entre os anos de 1931 e 1974, funcionou em solo oliveirense o Hospital Colônia Neuropsiquiátrico de Oliveira (HCNPO), uma instituição de internação psiquiátrica reconhecida pelo seu maquinário de ponta.


Àquela época, Oliveira já carregava o título de cidade saúde, como divulgava o jornal local, a Gazeta de Minas – a propósito, o jornal mais antigo do estado de Minas Gerais. Isso porque antes do hospital, Oliveira sediou um sanatório tuberculoso, o que fez com que o município recebesse muitas pessoas de várias regiões em busca de tratamentos de doenças pulmonares e afins.

Hoje, novamente, Oliveira se destaca pelo campo da saúde, investindo em saúde pública, com diversas unidades básicas, clínicas e centros de atendimento. Não somente pela saúde, mas também a cidade de Oliveira pulsa com manifestações culturais como o bloco carnavalesco Pelo Amor de Deus, a figura do Cai N’Água, a tradicional Festa do Rosário e a Semana Santa.


A cidade também abriga o coletivo “Litoral Psicanalítico: Pesquisa e Transmissão”, que promove encontros voltados à articulação entre teoria e prática da psicanálise. Um coletivo de analistas praticantes da psicanálise de Orientação Lacaniana.


Nomeado e constituído formalmente em 2016, o grupo surge como efeito de um movimento iniciado em 2010 por alguns analistas, pelo desejo comum de continuarem com os estudos e com a transmissão da psicanálise também em seu próprio território. Durante esse tempo muitas pessoas se aproximaram dessa proposta, algumas permanecendo e outras trilhando novos caminhos.


Assim, é a partir do vínculo singular de cada integrante com a causa analítica e com o desejo de saber que essa experiência inédita nasce no território de Oliveira – MG. Como premissa, a busca de fazer “litoral”, conceito lacaniano que conjuga lugares distintos sem fazer disso homogeneização.


Seus quatro idealizadores e fundadores: Flávia Parizi Pedroso Coelho, Jaílson Salvador Silva, Maria Alice Silveira Batista, Marina Gabriela Silveira, conceberam o coletivo não como uma escola, mas como um espaço de estudo inspirado na lógica do dispositivo lacaniano de Cartel — formado pelo encontro de quatro pessoas e um desejo em torno da causa freudiana.

Um lugar que se constrói como extensão da formação, onde cada sujeito oferece algo de si, traçando, assim, um sentido de singularidade. Atualmente o coletivo conta com cinco integrantes, com a chegada de Jacqueline Pereira em 2024.

Também em Oliveira, nasceu em 2017, o Entrelugar, a partir de um desejo antigo de criar um espaço compartilhado de trabalho. Ele surgiu inicialmente com o nome Veredas e foi justamente o caminho percorrido, com suas encruzilhadas e encontros, que os levou ao que hoje chamamos de Entrelugar.


Nesse sentido, o Entrelugar é uma resposta, uma invenção criativa diante do mal-estar que atravessa o contemporâneo. Mais que um espaço físico, ele é um território simbólico e pulsante, que enlaça saberes, culturas e ofícios diversos. Orientado pela ética da psicanálise, propõe uma construção coletiva e transdisciplinar, onde a escuta e a criação caminham juntas.


Não se trata apenas de um coworking, é um lugar marcado tanto por encontros marcados quanto por encontros ao acaso, onde surgem soluções e serviços voltados a sujeitos e coletivos. Suas intervenções acontecem no setting clínico, mas se expandem para além dele, alcançando os diversos espaços da cidade, reafirmando o compromisso com o território, com a circulação, com o encontro e com a escuta nos múltiplos contextos que compõem a vida em Oliveira.


Desde 2019, em ocasião da 10ª edição que foi sediada em Divinópolis / MG, o coletivo Litoral Psicanalítico e o Entrelugar participam da organização  do Fórum Mineiro de Psicanálise. Essa menção é importante, pois é a transferência de trabalho desses coletivos com o Fórum que possibilita que  Oliveira-MG seja a sede da 13ª edição do evento.  


Diante dessa linha temporal, nos deparamos com dois textos de Freud que completam 100 anos: “Inibição, Sintoma e Angústia (1926)” e “A questão da Análise Leiga: diálogo com um interlocutor imparcial (1926)”, escritas estas que nos convidam a conversarmos sobre a clínica, a formação e cultura, três eixos que se atravessam.

Argumento e Eixos Temáticos

Quando iniciar-se o XIII Fórum Mineiro de Psicanálise em 2026, ambos os textos escolhidos como norteadores estarão completando 100 anos, um marco que o Fórum celebra e convoca psicanalistas e afeitos à psicanálise a escuta, construção e invenção de trabalhos e diálogos sobre a psicanálise que atravessa a sociedade de muitas maneiras.


Em “Inibição, Sintoma e Angústia”, Freud nos convida a um novo olhar sobre a teoria da angústia, que antes era pensada no campo da repressão, de uma libido acumulada, de uma energia reprimida que se transforma em angústia. Ao modificar esse entendimento da angústia, realizando um enlaçamento com as inibições e sintomas, Freud nos apresenta esta como um sinal diante de um perigo. No Seminário X de Lacan, a angústia é colocada como um afeto que não engana, que localiza algo do objeto a e um sinal do real. Freud ainda considera que a inibição possui uma função especial na dinâmica das relações sem necessariamente ser patológica, deixando essa característica a cargo do sintoma, cuja economia na relação com o ego se encarrega de uma satisfação pulsional.

No livro “A questão da análise leiga: diálogo com um interlocutor imparcial”, Freud traz a tona questionamentos que continuam muito presentes na atualidade. Em uma conversa imaginária com um interlocutor, ele perpassa desde a particularidade da práxis de um psicanalista, diferenciado-a da formação médica (essa que fora sua formação inicial), colocando-a como uma “experiência subjetiva, singular e que implica uma ética peculiar.” Demonstrando grande preocupação em relação à subordinação da psicanálise a alguma ordem ou instituição, cujo intuito seja uma padronização da formação. Neste ponto, também Lacan segue a mesma trilha, colocando a psicanálise ao avesso à qualquer tipo de regulamentação, seja do ponto de vista da formação como da sua práxis.

No XIII Fórum Mineiro de Psicanálise, que acontecerá na cidade de Oliveira, o tema escolhido será “Inibição, sintoma e angústia: na psicanálise e na cultura”. A proposta parte do desejo de sustentar, coletivamente, uma escuta atenta aos impasses contemporâneos, articulando a clínica psicanalítica com os efeitos culturais e sociais que atravessam a subjetividade na atualidade.


Na psicanálise, os termos “inibição”, “sintoma” e “angústia” não são apenas categorias diagnósticas ou descritivas; são operadores conceituais que apontam para o modo como o sujeito se estrutura diante do desejo, da falta e do gozo. Em Freud, esses conceitos já aparecem articulados, mas é com Lacan que ganham releitura mais complexa, indicando registros distintos da experiência subjetiva e diferentes formas de enodamento do Real. Quando se propõe pensá-los “na psicanálise e na cultura”, abre-se o campo para interrogar não apenas o sujeito em sua singularidade, mas também os modos pelos quais o mal-estar se inscreve nos laços sociais contemporâneos.

O desafio contemporâneo, então, é articular essas categorias de maneira que não se restrinja ao consultório, mas que permita também um olhar clínico sobre os impasses da cultura. Como pensar a inibição diante das promessas de produtividade infinita? Que tipo de sintoma o sujeito contemporâneo constrói frente a quedas dos ideais? E o que a angústia nos diz quando se torna uma experiência compartilhada nos corpos medicados, nos silêncios gritantes, nas violências que se repetem?


Essas e outras questões vão circular nesse movimento, pois, falar de inibição, sintoma e angústia na psicanálise e na cultura é sustentar o gesto clínico no coletivo, mantendo viva a aposta de que há um sujeito aí.


Assim, o Fórum Mineiro como espaço de interlocução, construção e diálogo propõe o entrelaçamento de 3 Eixos Temáticos:

Tomada como um exercício ético de invenção, e onde chegam as novas formas de sintomas do sujeito, a clínica tem como bússola o sinal da angústia, não somente do afeto mas paradoxalmente como um sinal do desejo do Outro. Como escutar tudo isso nos dias de hoje? Como as inibições, sintomas e angústias aparecem no corpo e nos modos de gozo? O que fazemos com aquilo que não se simboliza? Este eixo é a oportunidade de mostrações de como a clínica tem sido utilizada no século XXI e como os psicanalistas podem, dentro do que é possível, simbolizar através de suas produções os trabalhos de elaborações e ato da escuta do outro.

As perguntas de Freud e Lacan ressoam “Quem pode analisar?”, “Do que se autoriza o analista?”, “Como a escola pode sustentar esse desejo?”, “Há possibilidades de a formação institucional fazer advir o desejo de tornar-se analista?”. É de se saber que a formação do analista está além dos muros institucionais, mas não sem os fundamentos teóricos, é uma experiência construída na escuta, na transferência, nos tropeços e impasses.

A psicanálise não se limita ao consultório: ela escuta os sintomas da cultura, as novas formas de mal-estar, os deslocamentos da linguagem, os efeitos da técnica, as mutações dos laços sociais. O que Freud chamava de “civilização” — e aqui nomeamos como Cultura — é o campo onde se inscrevem os discursos que atravessam o sujeito e onde se produz, também, a resistência à escuta. A cultura atual nos convoca a pensar o lugar da psicanálise diante das questões de gênero, das formas contemporâneas de sofrimento, da medicalização excessiva, dos discursos da performance e do consumo. Pensar a psicanálise na cultura é sustentar sua função de deslocamento, de furo, de interrupção do saber estabelecido.

Convidamos assim, àqueles que foram tocados de alguma maneira para submeter seu trabalho em diálogo com esses três eixos. Onde não há nada de estanque, mas pontos de costura, laços e conversas. A clínica está na cultura, a formação perpassa atravessamentos em ambos e o Fórum os acolhe e se torna lugar de escuta, entrelaçamento e invenção. Vem com a gente, no jeitinho mineiro, prosear e fazer psicanálise.

Textos de referência
Freud, Sigmund. Inibição, Sintoma e Angústia. In: Obras completas: volume 17 – O futuro de uma ilusão e outros textos (1926-1929). São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
Freud, Sigmund. A questão da Análise Leiga: diálogo com um interlocutor imparcial. In: Obras completas: volume 17 – O futuro de uma ilusão e outros textos (1926-1929). São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
Lacan, Jacques. O seminário, livro 10: A angústia (1962-1963). Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

Nossa (lógos)marca

A obra apresentada em assembleia para apreciação das comissões organizadoras do FMP/2026, foi desenvolvida pela artista Marcela Sampaio que se inspirou em elementos relacionados à cidade de Oliveira, estes representam visualmente o município e dialogam com a proposta do Fórum.

Utilizando aquarela, uma técnica singela que remonta aos tempos do Renascimento, uma abordagem antiga, mas que ainda é muito atual, transformou imagens em emoção líquida através da delicadeza das cores e fluidez dos traços e sentimentos que a pintura transmite.

Cada elemento traduz o que é da história, se conectando a grandiosidade do evento, quando faz sutilmente referência ao antigo Hospital Colônia de Neuropsiquiatria Infantil, dentro de uma das bolhas de sabão, revelando o rompimento histórico com o passado doloroso, ressignificando o ambiente que hoje é a Escola Estadual Mário Campos e Silva.


Podemos contemplar elementos centrais, de forte representatividade cultural da cidade:


A esquerda com trajes amarelos o Cai N’água, figura misteriosa, de caráter lúdico e cheio de vida, soprando as bolhas de sabão que flutuam.


A direita representada o Congado e suas raízes, o negro com tambor e baqueta na mão com cordão que se arrebenta, fazendo alusão ao distanciamento do passado.


Nas mesmas figuras numa perspectiva de simbologia potente através do “ Facelles Art” ou “Arte sem rosto” permite que o espectador projete suas próprias emoções e interpretações tornando a obra aberta a diferentes significados.


O coqueiro e a árvore que antes faziam parte da paisagem de Oliveira estão inseridos nas diferentes camadas da simbologia histórica conectando elementos. Suas raízes longas e profundas envolvem a base da obra, trazendo um significado mais íntimo e simbólico, como se guardassem a memória viva da cidade e de seu povo.


A obra, portanto, vai além da representação estética — ela é um convite ao olhar sensível, à escuta do passado e à construção de novos sentidos. Ao unir memória, cultura e arte em uma mesma composição, Marcela Sampaio oferece ao Fórum Mineiro de Psicanálise/2026 uma imagem que não apenas ilustra, mas que emociona, provoca e ressignifica.

É uma pintura que não se limita ao papel: pulsa, respira e se transforma junto ao olhar de cada pessoa que a contempla.


Texto de Luciana Nascimento

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