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Resumos dos trabalhos separados por mesas:

12/07/2019

10h30

MESA 1:

1) ESTRANHAS DIREÇÕES: CAMINHOS DIFÍCEIS EM UM TRATAMENTO PSICANALÍTICO

(Janilton Gabriel de Souza / Roberto Lopes Mendonça)

No presente trabalho, parte-se da escuta de um caso clínico com tratamento iniciado em face à dificuldade de dirigir um automóvel, tendo como significante mestre a palavra direção. À medida que seu tratamento avança, percebem-se as variantes da direção, como por exemplo, os rumos que deu em sua vida e quais serão os novos caminhos frente ao novo momento com o qual se depara. Essencialmente, o caso nos permite uma articulação com o texto de Freud (1937/2017) Construções em análise e através dele uma discussão com outro texto, O Infamiliar (FREUD, 1919/2019). Nele, inicia-se a partir do embaraço na tradução do título Das Unheimliche. Busca-se discernir as dificuldades encontradas na clínica frente a isso que Freud (1919/2019) descreve como algo conhecido, mas que sofreu a operação do recalque, e foi então esquecido. Frente a circunstâncias várias, experimenta-se a sensação de estranhamento, a qual remete àquilo que fora recalcado e ao complexo de castração. Assim, a proposta é apresentar, através do percurso do caso clínico, como a escuta do psicanalista pode operar no sentido de promover uma retificação subjetiva, a elaboração e a reinvenção do sujeito.

Palavras-chave: Estranho; Castração; Desejo do analista; Transferência; Recalque.

2) O ESTRANHAMENTE INFAMILIAR DOS MEDOS

(Vanessa Campos Santoro)

A autora compara a formação de sintomas na clínica psicanalítica da fobia com a verdadeira irrupção do real vista em acontecimentos recentes, como no episódio Córrego do Feijão. Lacan trata o real pelo simbólico, abordando o estranho familiar, “das unheimliche” em cada um de nós. A capacidade de elaboração do stress pós-traumático pede não só a palavra que toca o corpo como letra de gozo: Pede também a elucidação de pontos da história de cada um que, de uma maneira estranhamente (in)familiar se fixara em traumas infantis. Esses pontos de real retornam, nos deixam agitados e aturdidos e para eles faltam palavras.

Palavras–chave: Fobia, Formação de sintomas, Trauma, Unheimliche, Letra de gozo, Bordejamento do real pelo simbólico.

3) FOBIA: O HORROR DE UM ESTRANHO TÃO ÍNTIMO

(Raquel Cabral de Mesquita)

Uma fobia se evidencia como medo experimentado no nível do afeto, por outro lado, ela não se reduz ao medo, sendo analisada no nível do significante como uma elucubração do saber sobre esse medo. Deste modo, o saber da criança sobre seus medos se apresenta na clínica como uma formação do inconsciente confeccionada por um número de significantes na tentativa de dar conta da irrupção de um real que não pode simbolizar-se naquele momento. É com horror ao invasivo estranho que as crianças, em processos iniciais da puberdade, evidenciam o deparar com o real sexual, no qual, os episódios fóbicos transformam o mais íntimo em ameaças externas. Os traumas do estranho aparecem, neste momento de transição da infância à adolescência, na iminência do real pulsional, na angústia da separação dos pais da infância e no mal-estar da relação com o Outro, marcada pela angústia que se manifesta no vacilar das identificações e aponta a indeterminação subjetiva. O que retrata o estranho paradoxo, ensinado pela psicanálise, no qual, a subjetividade se constitui a partir do Outro, impondo efeitos ao sujeito.

Palavras-chave: Fobia; Estranho; Real pulsional; Angústia; Outro

4) “MONSTER HIGH, A MÃE CADÁVER E SEUS EFEITOS MORTÍFEROS

(Elaine Azevedo / Juliana J. Marçal)

Este trabalho apresenta aspectos do atendimento de uma criança a partir de um encaminhamento escolar, João é o nome  dado a criança que fora acolhida e atendida pela estagiária de psicologia sob a supervisão da professora Elaine Azevedo. A partir do acolhimento da demanda inicial e atendimentos posteriores nossa aposta é que a analise é um espaço para o paciente manifestar seus sentimentos, sensações e anseios, possibilitando um contorno ali onde as palavras faltam. Tão significativo quanto à relação que se estabelece na família de João é a sua interpretação das circunstâncias que guiarão a forma singular com que o sujeito se relacionará ao longo da vida.

Palavras-chave: clínica psicanalítica; mãe-monstro; estranho, familiar.

MESA 2:

1) O PALHAÇO E O ESTRANHO: REFLEXÕES SOBRE A FIGURA DO CLOWN

(Miguel Levi de Oliveira Lucas / Rogéria Araújo Guimarães Gontijo)

A psicanálise sempre teve uma relação muito próxima e positiva com a arte, seja ela literatura, pintura, escultura ou qualquer outra forma. Isso se deve principalmente ao fato de que Freud era um admirador das artes. Além disso, o próprio dizia que muitas vezes os artistas desbravam as florestas do inconsciente e trazem à tona coisas que seriam confirmadas depois pelas teorias psicanalíticas. Ao estudar o conceito freudiano do Estranho (unheimliche) percebe-se que ele tem muito para acrescentar no estudo da arte e da estética e que ele poderia ser melhor explorado se se associasse a uma arte que parece ter muito a contribuir com a psicanálise: a palhaçaria. A figura do palhaço é tão ambígua quanto o conceito de Unheimliche de Freud. A palhaçaria traz à tona coisas que foram recalcadas e permite que o sujeito, encarnado na figura do clown, faça graça com isso. Ele é, de certa forma, a materialização do conceito de Unheimliche, algo que é estranho (externo), mas ao mesmotempo familiar (interno), numa posição éxtima. O palhaço sempre esteve ligado a figuras excluídas socialmente como os coxos e deformados nas sociedades primitivas e até mesmo na idade média, nas figuras dos bufões e bobos da corte, que eram conhecidos por trazerem a verdade, mas de forma que não fossem crucificados por isso. O palhaço tem essa função até hoje, na palhaçaria moderna, justamente porque se trata de um processo de autoconhecimento e de encontro com a própria verdade, a verdade do sujeito.

Palavras-chave: Palhaço, Clown, Palhaçaria, Estranho, Psicanálise, Unheimliche.

2) QUE PARANGOLÉ É ESSE? Uma interlocução sobre significação e representação em arte.

(Alexsandra de Oliveira)

O presente artigo busca investigar o lugar da arte na construção de significados estabelecendo uma interlocução com o Carnaval de Rua de Belo Horizonte/2019, tendo como objetivo ampliar a discussão acerca do potencial de significação e representação que a mesma tem com os diversos sujeitos institucionalmente marginalizados. A investigação de Dias (2015) constatou que o carnaval de BH se tornou, ao longo da última década, um mecanismo de discussão social acerca das demandas dos menos favorecidos e da representatividade das minorias. Dessa forma, buscaremos a palavra parangolé e suas significações no universo da arte e através de algumas contribuições teóricas, dentre elas a psicanálise, retomar a aproximação da estrutura dos nós borromeanos de Lacan, que visa pensar a constituição psíquica do sujeito, com o lugar da arte na construção de significados. Lacan aponta que a manipulação física dos anéis de barbante torna-se imprescindíveis, pois a apreensão de sentido se faz com o corpo. Assim, essa proposta de trabalho toma uma forma abrangente de representação e construção de significados dos diferentes sujeitos principalmente diante das demandas desse estranho no mundo contemporâneo. O ex-perimento arte, proporciona uma ambiência favorável às leituras e ressignificações de mundo dos diversos sujeitos propositivos, já que os tornam co-criadores, aumentando assim o sentimento de pertencimento não só da criação propriamente dita, mas também do universo social em que habita.

Palavras-chave: arte; apropriação e ressignificação; blocos de carnaval contemporâneos; manifestações festivo-políticas; conflitos identitários na metrópole; imaginário; arte contemporânea.

3) ARTE E PSICANÁLISE, O ESTRANHO POR ONDE CAMINHO

(Danty Dias Marchezane)

Arte e estética podem ser consideradas elementos fundantes da psicanálise, há de se pensar que tais áreas não estão no caminho da psicanálise, elas são o caminho da psicanálise. Quando pensamos em, estética, arte e psicanálise, há algo do estranho que está ao fundo de tudo isso. A estética consegue mostrar algo, a arte encobrir e a psicanálise a alcançar o que se mostra, e o que se encobre, essas as características demonstram com precisão a sensação do unheimlich. Quadros, esculturas e produções artísticas comumente evocam a sensação de ex-tranho. Freud (1919) menciona o fato de os neuróticos do sexo masculino declararem, com certa frequência, sentir algo estranho em relação ao genital feminino. Pois este lugar “unheimlich[estranho] é a entrada para o antigo heimliche [lar/doméstico] de todos os seres humanos. Freud, atribui essa sensação de estranheza a genitália materna, ou do seu corpo, já que o unheimliche é o que uma vez foi heimliche, o estranho que já foi familiar. No quadro de Gustave Coubert “A origem do mundo” (1866), ao se deparar com imagem de uma mulher com as pernas abertas, com a genitália exposta, é comum ouvirmos relatos da sensação de estranheza. A perplexidade, incredulidade, espanto são sensações que surgem, em um encontro com esse ex-tranho tal como arte e estética que por instante(s) nos faz calar e falar. Ao surgir, resíduos não elaborados pelo psiquismo, essas sensações permitem que surja aquilo que, no mundo não pode ser dito.

Palavras-Chave: Psicanálise, arte, estranho, unheimlich, origem

MESA 3:

1) O DES(p)EJO QUE ME HABITA – A PSICANÁLISE E @S VOLTAS

(Cláudia Aparecida de Oliveira Leite)

Em 1960, Carolina Maria de Jesus publicou um livro intitulado “Quarto de despejo: diário de uma favelada”. Esta obra impactou toda sociedade daquela década por revelar a realidade da favela pobre, negra e desamparada pelo poder público. Sendo assim, aquilo que deveria permanecer escondido surge como um “fruto estranho” na escrita de Carolina. A posição do leitor diante da escrita da miséria cotidiana também nos inquieta, pois o leitor se afunda na lama podre, no beco sem saída, no berro da fome e se apazigua com os pedaços de ossos que o frigorífico despejava na terra e que seriam o principal ingrediente da sopa da noite. Portanto, o belo se quebra nas linhas do seu diário. Assim, recuperamos o primeiro anúncio que Freud nos traz em seu texto “O Estranho” (1919). Ele anuncia que estamos na fronteira da estética ao nos ocupar do tema do estranho (Unheimlich), porém o modo como a Psicanálise se aproxima desse tema revela sua natureza fugidia, radicalmente intraduzível e que foge, inclusive, da precisão linguística, pois Unheimlich (estranho) mescla-se ao seu oposto: Heimlich (familiar). Assim, Freud nos convida a circular entre alguns escritores para situar a escrita do estranho nos livros e no corpo pulsional. O presente trabalho circula entre o que Freud nos ensina sobre o tema do estranho e o que Carolina denuncia com sua letra: o Estranho é sustentar o corpo próprio. Esse corpo que é habitado e habitável, que circula pelas cidades entre outros corpos, furado pelas marcas da pulsão e corrompido pelo desejo do Outro.

Palavras-chave: Carolina Maria de Jesus; Estranho; Escrita; Corpo; Psicanálise.

2) SONHOS E O ESTRANHO

(Yolanda Mourão Meira)

(Resumo: publicação não autorizada).

3) O ESTRANHO DO SER – O FALASSER – PARLÊTRE

(Maria Pompéia Gomes Pires)

O texto fala da estranheza do falasser que sente em si próprio o incômodo e a angústia provocada pela natureza de sua estrutura. Estranheza provocada pela sua cisão interna, entre um ser de natureza real e um ser de natureza simbólica.

Palavras-chave: Falasser, Parlêtre

4) O ESTRANHO GOZO NO REINADO DE OLIVEIRA

(Jailson Salvador da Silva / Marina Gabriela Silveira)

Lacan formalizou os modos de gozo do falasser, que usaremos neste artigo para ler a expressão cultural e religiosa, afro-brasileira, presente na cidade de Oliveira: O reinado de Nossa Senhora do Rosário. Se Lacan leu nos místicos do cristianismo os vestígios do gozo místico, nas religiões de matriz africana focalizamos a mística dos reinadeiros como uma amostra deste mesmo gozo que nos remete ao gozo feminino. Um gozo marcado no corpo do falasser pelos tambores, cantos e dança, na vertente do S (Ⱥ). E que nas narrativas míticas falam do falicismo do gozo. Queremos, assim, ler tal experiência em paralelo à tábua da sexuação e evidenciar algo do gozo feminino que se faz sentir no corpo afetado pelo significante, e que, por isso, escreve algo no falasser. Pretende-se, ainda, analisar como este gozo pode suportar faces do Outro (A e Ⱥ), quando experimentado como estranho por um estrangeiro ao reinado. Gozo este que, por sua estranheza, interroga algo do gozo do próprio sujeito. Para tanto, retomaremos o a elaboração milleriana sobre o racismo, em seu curso sobre a extimidade e os textos sobre racismo apresentados II Fórum Zadig, “Por que só há raças de discurso: desafios à democracia”. Haja vista que em Oliveira, a festa foi proibida e hostilizada por diversas vezes. Em suma, pretende-se analisar como este gozo feminino é experimentado pelos reinadeiros, e como algo deste gozo se mostra como insuportável para quem recusa a estranheza do feminino que nele se manifesta.

Palavras-chave: Estranho, gozo feminino, gozo do próximo, gozo místico.

MESA 4:

1) A ADOLESCÊNCIA E SEUS CONFLITOS: COMO OS ADOLESCENTES TÊM VIVENCIADO ESSE PERÍODO QUE LHE É ESTRANHO E AO MESMO TEMPO FAMILIAR

(Bethânia Amaral Nogueira)

A adolescência do século XXI remete a todas as questões que Freud já apontava em suas obras há um século: a sexualidade, a escolha de objeto de amor e a identificação, porém, com a roupagem dos tempos contemporâneos. A tecnologia, a exposição virtual e não menos importante as nomeações diagnósticas, são maneiras que o sujeito tem encontrado para lidar com toda a sintomática de que as mudanças da infância para a adolescência são permeadas. Porém, a clínica com crianças e adolescentes, vem nos mostrando o quão algumas dessas saídas tem sido devastadoras para o sujeito. Quando buscamos alguma palavra que possa adjetivar o período da adolescência, nos deparamos com o engodo da linguagem. Assim como não há simbólico para o real do sexo, nem tudo pode ser traduzido ou expressado da maneira mais literal. É nesse paradoxo que Freud se vê às voltas em sua obra de 1919 “Unheimliche”. Apesar da impossibilidade de se traduzir com exatidão o termo, todos os significados podem indicar de alguma forma o sintoma adolescente. Não obstante, a expressão “estranhamente familiar” tem muito a dizer sobre as queixas e demandas que o sujeito vivencia nesse momento. Este breve trabalho tem como proposta falar sobre as questões da adolescência e o que Freud pode nos dizer sobre essa clínica através de sua obra.

Palavras-chave: Adolescência, sexualidade, sintoma, estranho.

2) ADOLESCÊNCIA E RISCOS: UMA EXPERIÊNCIA DO SINISTRO

(Carolina Nassau Ribeiro)

A adolescência nem sempre foi um tema de dedicação por parte dos psicanalistas, Sabemos que Freud raramente utilizou o termo adolescência, ao falar sobre esse assunto, ele fez alusão mais à puberdade, do que à adolescência propriamente dita. Lacan também fez raras alusões à adolescência, sendo a mais famosa delas o comentário sobre a peça de Wedekind, “O despertar de primavera”. Peça que desfia, já no final do século XIX, vários dos conflitos e riscos aos quais os adolescentes continuam expostos. Para Le Breton (2017) a adolescência seria o tempo de o jovem construir “a questão do sentido e do valor de sua existência” (p.22), já que neste momento, neste tempo de moratória (Calligaris, 2000), o sentido e o valor da vida são colocados em suspenso. É tempo de estranhamento com o corpo, de afrouxamento com os vínculos que foram sustentados da infância (Freud, 1910) e, em decorrência da referida suspensão, um momento em que os comportamentos de risco afloram. Não por acaso ousamos afirmar que o trabalho clínico com adolescentes porta um risco significativo já que o valor e sentido de sua existência estão sendo colocados à prova. A proposta do texto será discutir a partir do texto “O estranho” (Freud, 19190 a experiência da inquietante estranheza no momento da adolescência, bem como o problema dos atos e riscos implicados nesse momento peculiar da vida. Faremos, ainda,uma discussão sobre a função do analista no tratamento clínico no momento em que o sujeito adolescente passa a se colocar em risco.

3) O INQUIETANTE E O ENIGMA NA SITUAÇÃO ANALÍTICA A PARTIR DE LAPLANCHE

(Jhonatan Miranda /Michelle A Dias Santos /Raissa de Matos Ribeiro)

Este trabalho tem como objetivo investigar a presença do inquietante na clínica psicanalítica orientada por Jean Laplanche. É sabido que esse autor não desenvolveu exatamente uma clínica própria em seus textos e é tarefa difícil localizar alguma menção feita a casos clínicos em sua obra. No entanto, um conjunto de textos é dedicado a problematizar e delimitar a situação analítica e a atividade do psicanalista. Para Laplanche, a alteridade tem lugar central na constituição do psiquismo e a tarefa clínica tem por base a possibilidade de reabertura dessa situação originária. Essa é concebida a partir da situação antropológica fundamental, quer dizer, uma assimetria radical entre um adulto com seu inconsciente sexual e uma criança desamparada que necessita de cuidados, o que propicia o recalcamento originário. A primazia do outro na constituição do psiquismo traz consigo, portanto, a instalação de uma alteridade interna, a qual estará no cerne do trabalho analítico. Freud, em seu texto sobre o inquietante, descrevendo esse sentimento, define sua principal origem no recalcado, aquilo que foi familiar e tornou-se estranho. Para Laplanche, esse estranho enigmático é motor da situação analítica na medida que suscita modos de transferência, estabelecendo uma dinâmica entre alteridade interna e externa.

Palavras-chave: inquietante, alteridade, transferência, enigma, Laplanche.

12/07/2019

14h30

MESA 5:

1) DEJEITOS

(Bárbara Maria Brandão Guatimosim)

Há um pouco mais de três anos atrás, em 05/11 de 2015, rompia em Mariana a barragem do Fundão da mineradora Samarco/Vale arrasando o município de Bento Rodrigues. A tragédia fez 19 óbitos e muitas mortes no maior desastre ambiental do país. No dia 25 de janeiro, mal começado o ano de 2019, a tragédia, agora nitidamente criminosa, se repetia em grande escala fazendo mais de trezentas pessoas fatalmente atingidas, trabalhadores da mineradora em sua maioria. Diante do rompimento da barragem do córrego do Feijão que fez mais um genocídio, nosso atual presidente se referia aos rejeitos da mineração como “dejeitos”. Uma curiosa formação do inconsciente que une os rejeitos minerais com os dejetos humanos. Na tragédia anunciada de Brumadinho os homens tornam-se dejetos misturados e amalgamados à lama mineral deixando um rastro de insalubridade na terra e nos próximos vinte anos. Não há como deixar de evocar Kafka, quando dizia que Praga, sua terra natal, era como uma porca que come seus próprios filhotes. A mineradora Vale emprega, cria uma comunidade no seu entorno, investe na qualidade de vida e entretenimento de seus colaboradores e depois destrói essa mesma comunidade. Uma barragem que não barra. Uma barra sem lei. Um limite que explode em seu imperativo de morte. Muitos sabiam do risco e ninguém fez nada para evitar a tragédia, salvo alguns cálculos que demostravam ser mais vantajoso pagar parcas indenizações pela não apenas provável, mas iminente chacina, do que investir em impedi-la. Entendemos que estamos diante de uma tragédia do “Não querer saber nada d’isso” paixão da ignorância que, como na tragédia de Édipo, não quer saber da pulsão da morte, este estranho familiar que de repente, vem à luz.

Palavras-Chave: Saber. Merda. Lixo. Tragédia. Pulsão de morte.

2) BARRAGENS DO MEDO: ENTRE O FAMILIAR E O ESTRANHO

(Otacílio José Ribeiro e Felipe Vieira)

Diante do cenário de destruição e morte decorrente dos desastres socioambientais e culturais dos municípios de Bento Rodrigues e Brumadinho (Minas Gerais), num choque de real e realidade, este artigo tem como objetivo pensar de forma macro sobre o impacto sofrido pela população em sua subjetividade, refletindo sobre o medo e o desamparo dos munícipes, de seus parentes e de seus amigos. O afeto do medo é inerente ao nosso psiquismo e o desamparo pode nos abrir para as relações sociais. Mas, em que medida a desarticulação do afeto medo do de desamparo torna possível uma ação política emancipatória, reconhecendo os indivíduos como sujeitos de direito e de pertencimento a uma comunidade? Toma-se aqui o conceito de desamparo baseado em Freud (1895/1994) no Projeto para uma psicologia científica, apresentado como a primeira experiência de frustração. No primeiro encontro com o Outro, o sujeito é jogado à própria sorte, marcando, desde então, o registro psíquico de todas as experiências morais; com esta saída, inaugura-se a vivência da subjetividade e da condição humana.

Palavras-chave: O estranho e o familiar – O medo e o desamparo – O sujeito político – A ética da psicanálise.

3) “SILENCIOSOS ECOS DO HORROR ENTRE MASSACRES E TRAGÉDIAS”

(Paula Rego Monteiro Marques Vieira & Thomas Speroni)

Entre massacres e tragédias no Brasil o horror de mortes seriadas clama por sentido, posto que estas se diferem da violência urbana já incorporada a narrativas cotidianas. Mas em que as chacinas de Suzano (2019), Realengo (2011) e Taiúva (2003) se destacam a ponto de promover um mal-estar suplementar àquele que a morte, aqui encarnada no assassinato de adolescentes em escolas públicas, per se evoca? Com Freud, especialmente em O mal-estar na cultura (1930) e em O estranho (1919), busca-se nesse trabalho promover articulações para análises dessas chacinas perpetradas por ex-alunos cujos suicídios foram premeditados. Na contramão de explicações ocupadas em desvendar motivações ou em evidenciar traços individuais de psicopatia, pretende-se articular logicamente os eventos supracitados ao mal-estar que ecoa silenciosamente na cultura, notadamente atravessado por questões de pertencimento e de angústia. Há uma reconfiguração contemporânea ensejada principalmente em redes sociais e/ou na deepweb que realoca, pela via das identificações, algo da ordem da estranheza em ecos ruidosos de familiaridade em grupos virtuais onde atos como o de Suzano são geridos e exibidos. Diante disso, a diferenciação lacaniana entre “passagem ao ato” e “acting out” e a possibilidade de reversão entre eles refinam a questão da relação entre sujeito e Outro. Aventa-se, deste modo, dar relevo a processos de amarrações de enlaces ficcionais que apontem não para um sentido, mas para o sentido do sentido.

Palavras-chave: Massacre; Tragédia; Horror; Silêncio; Suicídio.

MESA 6:

1) ESTRANH(A)RTE: Frida Kahlo

(Janaína Sandra Pereira)

Freud propõe em 1919, no texto “O Estranho”, que a estética deve ser entendida como a teoria das qualidades do sentir e não como teoria da beleza. A estética é uma das bases da filosofia que busca investigar a essência da beleza e da arte acerca do potencial humano, tendo como pressuposto o belo e a percepção. A arte é considerada um ato, no qual o homem trabalhando a matéria corporal, seja pelo campo da imagem ou do som, cria e revela a beleza da sua criação-expressão através do mundo. Neste ponto, Freud está próximo do debate filosófico que desembocou no nascimento da estética moderna, mas dará contornos próprios a esta discussão sobre a percepção e a beleza, realizando uma leitura peculiar sobre a mesma. Na tentativa de compreender a estética do Estranho a partir de Freud, o conceito repetição se destacou: só há Unheimlich se houver repetição. “O estranho é algo que retorna, repete e ao mesmo tempo, se apresenta como diferente.” (Garcia Roza). A proposta desse texto é analisar como Frida Kahlo utilizou da arte repetidas vezes para reconstruir um corpo e suplantar sua dor no processo dessa reconstrução. A história de Frida foi demarcada pela pintura e por excessos. Sua obra é caracterizada pela repetição que causa familiaridade e estranheza, a qual excede em suas telas, efeito de sua experiência pessoal de intensa dor que transcende ao que se apresenta na moldura.

Palavras-chave: Estranho. Estética. Frida Kahlo. Repetição.

2) LEONARDO DA VINCI: UMA LEITURA ANALÍTICA DO BELO

(Heloísa Mamede Silva Gonzaga)

A busca da perfeição define o olhar para os detalhes artísticos, onde podemos encontrar o belo satisfazendo a intimidade de conflitos inexplicáveis. Leonardo Da Vinci (1452-1519) foi admirado não só como um artista, mas também arquiteto e engenheiro militar. Nas suas pinturas femininas ressalta-se o sorriso notável e misterioso, sem que centenas de pesquisadores consigam decifrar esse enigma, que se apresenta como um contraste entre a ternura e uma sensualidade inexplicável. Mas a psicanálise em sua percepção apropriada de ver o sujeito não só em seus intercâmbios sociais que se apresentam na produção artística e intelectual, o vê também como sujeito do inconsciente, que projeta e expressa em sua obra, seus conflitos, realizando-se através da sublimação dos mesmos. Isso aparece na arte de Da Vinci como o belo objetivado e ao mesmo tempo pela busca incessante de detalhes, mostrando o sujeito atormentado pela busca contínua da unicidade do eu. Seria a demora “compulsiva” de Da Vinci em terminar suas pinturas, a representação da inscrição de sua vida infantil em forma de um enigma para a sociedade a qual pertencia? Não é o sorriso misterioso da Mona Lisa um convite para ajudá-lo a entender o que está além do consciente?

Palavras-Chave: Sublimação, libido, sujeito do inconsciente, pulsão, belas-artes.

3) O ESTRANHO É AZUL – ARTICULAÇÕES ENTRE PSICANÁLISE E ARTE NA OBRA DE PABLO PICASSO

(Sidney Kelly Santos)

A leitura do centenário texto Freudiano Das Unheimliche traz este trabalho uma visão particular e atual da obra de Pablo Picasso “O quarto azul” (1901-1904), como um estranho-familiar. Nesta obra, confeccionada em um momento de grande dor para o artista, enlutado pelo falecimento de seu amigo Casagenas. Picasso traduz o sofrimento nesta cor e a transfere ao Quarto Azul. O quarto de aparência feminina expõe a desnudez, a luz e as sombras azuis que se mesclam nos objetos compostos para dizer de uma solidão e, talvez, como que por transferência, de sua paixão (na falta deste amigo). E existe uma estranheza no fundo desta tela, um “fantasma” de barba escanhoada, gravata borboleta e anéis, que encobre ao se revelar. Por um lado, será que o fantasma que sonha no Quarto Azul poderia exteriorizar o funcionamento do processo artístico de Picasso? Seria a constatação de um mecanismo paralelo ao processo da arte? Por outro lado, o sinistro que se mostra no quadro e, em especial, no quarto parece ser pensado no foro da intimidade e no estranho-íntimo, tal qual o fenômeno do duplo em Freud. Assim como Natanael, no personagem de Hoffman, pode-se articular a Psicanálise como uma prática que se lê para além do texto, um subtexto; mas, continuamente, o que estranhamente se (des)cobre?

Palavras-chave: Psicanálise, Estranho, Duplo, Quarto Azul.

4) ESTRANHAMENTE BELO: A ESTRANHA SINGULARIDADE POR TRÁS DE NOSSOS ENCONTROS COM O BELO

(Carlos Eduardo Rodrigues)

O objetivo deste texto é discutir o efeito do belo sobre nós, um efeito relacionado com a singularidade, com o estranho. O belo é aquilo que nos agrada, pensando numa perspectiva estética. Será que poderíamos pensar no belo, pelo menos em alguns desses encontros, como algo da ordem de uma defesa contra o que escapa ao processo de recalcamento? Em outras palavras, será que nossos encontros com o belo não seriam uma forma sublime de lidar com o que deveria permanecer recalcado, permanecer oculto, mas aparece ao sujeito? Freud em sua discussão sobre o estranho nos diz que Unheimlich é tudo que deveria permanecer oculto, mas veio à luz. Tomando como discussão a Síndrome de Stendhal, poderíamos pensar que nosso encontro com o belo também pode revelar algo da ordem do estranho, pode revelar algo que deveria estar escondido. Quando nos deparamos com algo que nos surpreende em função de sua beleza e seu valor, perdemos o controle, ficamos sem saber como lidar com esse estranho, isso nos faz pensar que esse encontro com o belo tem algo de singular, de subjetivo, e revela, de certo modo, algo que o sujeito não está apto a se deparar. Então, quando vemos algo belo de tamanha magnitude, como as obras de arte no Louvre ou a beleza de Veneza, essas obras têm o poder de revelar algo nesse estranho encontro com o belo.

Palavras- chave: estranho, belo, estética.

MESA 7

1) O ESTRANHO MAL ESTAR NOS FENÔMENOS SOCIAIS

(Gisele Scarpone Salem)

Buscamos, neste trabalho, discutir algumas reflexões que Freud nos apresenta sobre a civilização e seu mal-estar em sua íntima relação com “Das Unheimliche”. Assim, o texto “O Estranho”, escrito por Freud em 1919, será o eixo central de nossa investigação. A partir de desassossegos e estranhamentos experimentados nesses tempos de cultura do ódio, retratamos a “paixão do ser” pelo ódio, a agressividade inerente e constitucional do ser humano e a angústia advinda do familiar. Nesse sentido, o ódio, que compõe a intimidade de cada um, torna-se estranho no próximo civilizado, ou seja, o estranhamento ao ódio se articula ao impacto que se sente quando algo deveria se manter oculto, mas se revela brutalmente. A temática do “estranho”, no atual cenário sócio-político, marca o mal-estar na civilização e nos incita a refletir sobre a angústia que nos chega na clínica e clama por apaziguamento, impondo-nos o desafio de um tratamento ao fenômeno do estranho em uma análise. Diga-se de passagem, um estranho-familiar que nos habita e afeta.

Palavras-chave: angústia, estranho, familiar, ódio

2) COMO PENSAR O ESTRANHO NO DISCURSO DO CAPITALISTA NEOLIBERAL?

(Roberto Calazans)

Partindo da noção de que o estranho é o estranhamento de si e uma possibilidade do sujeito encontrar uma saída para a fixação do sintoma a partir desse estranhamento, nos questionamos sobre como pensar o estranho no discurso do capitalista em sua modalidade neoliberal. Este questionamento parte da proposição do psicanalista argentino Jorge Aléman em que é afirmado que o dispositivo neoliberal do laço capitalista pretende moldar a própria subjetividade a partir do o princípio de que o sujeito é o empreendedor de si mesmo – ou seja, sem alteridade que possa constituir o sujeito do inconsciente – em que o sujeito trata a própria existência como uma empresa que deve gerar sempre mais produtos. A consequência disso é o que podemos chamar com Byung-Chul Han de sociedade do desempenho, em que o sujeito deve sempre estar apto a melhorar esse desempenho empreendedor até à estafa. Este imperativo do sujeito empreendedor de si, de certo modo, impede um estranhamento sobre si, o que nos leva então a nos perguntar como pensar ou localizar o estranho do sujeito nesse laço neoliberal, principalmente quando as formações sintomática tomam o corpo como o local privilegiado de manifestação, levando o sujeito muito mais ao silêncio sobre si e sobre o Outro. A nossa aposta é que afirmar o sujeito do inconsciente a partir da ética do desejo da psicanálise possa permitir um retorno do estranho sobre o sujeito para que ele possa dar outros caminhos para a libido frente ao mal-estar contemporâneo.

Palavras-chave: Psicanálise; neoliberalismo; corpo

3) UNHEIMLICH E FASCISMO: UM ESTUDO ACERCA DO ESTRANHO-FAMILIAR E SUA RELEVÂNCIA NA ANÁLISE DA ESCOLA DE FRANKFURT SOBRE O AUTORITARISMO

(Rafael S Shirakava / Gustavo H Dionísio)

Em 1919, no ensaio O inquietante, Sigmund Freud definiu o Unheimlich como um estranho que não é alheio, desconhecido, mas familiar, que está associado aos conteúdos infantis recalcados que retornam na forma de angústia. Segundo Adorno e Horkheimer, em Dialética do esclarecimento, esse aspecto da constituição psíquica é um dos elementos que possibilita a violência contra a alteridade, uma vez que a sociedade administrada, sedimentada pela razão instrumental, não tolera qualquer forma de diferença, não-identidade. Para estes pensadores, que lançam mão da teoria psicanalítica freudiana em suas produções teóricas, o ódio ao estranho remete a uma fúria contra a natureza recalcada, os gestos impuros e inferiores tornados tabus, mas ainda presentes na vida cotidiana, denotando que o repúdio direcionado ao estranho está associado, na verdade, à familiaridade com este, com aquilo que não foi formalizado pela razão instrumental. Tendo isto em vista, nosso estudo almeja pontuar os aspectos que constituem a categoria freudiana de Unheimlich e suas implicações políticas dentro da produção do psicanalista vienense, bem como suas possíveis articulações com as obras de Theodor Adorno e Max Horkheimer para a compreensão da emergência do autoritarismo.

Palavras-chave: Unheimlich, estranho, fascismo, psicanálise, Escola de Frankfurt

4) O ÓDIO COMO AFETO POLÍTICO CENTRAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO: UMA INTERPRETAÇÃO PSICANALÍTICA

(Marcelo Fonseca Gomes de Souza)

O presente trabalho tem como objetivo propor uma reflexão sobre a emergência do ódio, pensado como um dos afetos políticos mais proeminentes da atual conjuntura política brasileira, a partir da análise psicanalítica do fenômeno do estranho. Para tanto, percorreremos a seguinte trajetória: (i) em primeiro lugar, será realizada uma apresentação sintética dos acontecimentos políticos atuais, visando mostrar como o ódio ocupa, aí, um lugar privilegiado. (ii) Em segundo lugar, apresentaremos, tanto a partir de Freud quanto da retomada lacaniana do texto freudiano, algumas interpretações possíveis do fenômeno. Freud entende que o estranho se refere àquilo que é intimamente familiar, na medida em que sua emergência determina, a partir de um evento eliciante, um desequilíbrio pulsional, desencadeado pelo retorno do recalcado. Este engendraria no Eu uma sensação de horror e estupefação que, muito amiúde, precisaria ser afastada. Lacan, por sua vez, tem uma compreensão ainda mais minuciosa do fenômeno. Ele estaria, em última medida, relacionado a uma interpelação do Outro, responsável por relançar o sujeito em direção a uma posição primária ligada à sua redução a um puro objeto de gozo. (iii) Concluiremos, por fim, analisando a hipótese de que o ódio é uma das vicissitudes possíveis, embora das mais danosas, que surge como resposta à emergência do estranho. O estranho será, aqui, elevado à condição de categoria política capaz de conferir inteligibilidade a certos fenômenos sociais.

Palavras-chave: estranho, ódio, política, Brasil.

MESA 8:

  1. A LÓGICA DO INCONSCIENTE: A ESTRANHEZA COMO EVIDÊNCIA LÓGICA

(Mardem Leandro Silva)

Freud foi propositor do modo de funcionamento lógico do inconsciente. No entanto, em comparação à lógica científica de sua época a lógica do inconsciente se ocupa menos do valor de verdade proposicional do que se enuncia do que do valor de estranheza, pois a estranheza implica no tropeço da lógica da fala. Assim, convêm destacar que aquilo que funcionaria como evidência para o discurso lógico, a saber, a relação de igualdade entre o verdadeiro e o evidente, não poderia ser simplesmente transposta sem maiores consequências para o empreendimento da investigação freudiana, já que nessa perspectiva a relação de igualdade articularia a evidência ao estranho. Evidência antitética que, segundo Freud, no texto O Estranho implicaria numa forma de estranhamento da parte do sujeito por fazer referência ao que seria ao mesmo tempo familiar e infamiliar. Trata-se, nesse sentido, de se pensar a evidência como um retorno do recalcado e, portanto, como um estranhamento, um oxímoro, capaz de produzir no espaço analítico um efeito de sujeito justamente em função dessa sua condição. Haveria em Freud todo um trabalho que infere evidências, mas elas decorrem menos do que se propõe como verdade universal do que como uma verdade particular, por vezes obscura, mas que moveria o sujeito.

Palavras-chave: estranho; inconsciente; lógica; verdade.

2) A PALAVRA DO ANALISTA: UMA ESTRANHEZA DESDE FREUD

(Douglas Félix de Oliveira / Ricardo Luiz Alves Pimenta)

O presente trabalho discute o fazer do analista na atualidade. Muitos criticam a clínica psicanalítica, alegando-a ao estatuto de um analista silencioso, clínica em que o analista não fala. Para o senso comum e para pesquisadores de epistemologias diferentes esta clínica traz o estigma e a estranheza do “uhum, aham”, como se o analista não participasse ativamente do tratamento psicanalítico. Por esse motivo, pretende-se revisitar alguns textos técnicos de Freud e textos do ensino de Lacan para sinalizar o lugar da palavra do analista no percurso do tratamento. A psicanálise foi inaugurada pela reivindicação de uma histérica: “deixe-me falar do meu jeito”, entretanto, isso não significou que o analista não pudesse mais falar, bem ao contrário, sinalizou que a palavra do analista tem um lugar e uma marca. O que Freud e o que Lacan sinalizam sobre a função da palavra do analista no percurso de um tratamento pela psicanálise? O convite à fala persiste e esta é a regra de ouro da clínica psicanalítica. Acredita-se que este estudo demonstrará que a psicanálise insiste em afirmar que entre a palavra do analisante e a palavra do analista há mal-estar, estranheza própria da clínica psicanalítica. Para isso, elucida-se a palavra conversar, que também significa fazer versos, e é isso que se faz entre analista e analisante. E é a partir d’isso que a clínica da psicanálise persiste, ainda con-versando no horizonte de nosso tempo.

Palavras-chave: Clínica psicanalítica; Palavra do analista; Condução do tratamento.

3) A FORMAÇÃO DO PSICANALISTA E O ESTRANHO

(Eliana Maria Delfino)

Este artigo propõe uma discussão sobre a formação do psicanalista não pela via da aquisição do saber acadêmico, mas pela lógica do inconsciente. O estranho orientará o sujeito do inconsciente e demonstrará que a formação analítica está em continuidade com a análise do analista. O analista surge como produto de sua análise, ou seja, da experiência com o inconsciente e aqui abre espaço ao estranho. O analista sofre do mesmo “phatos” que funda a experiência humana. Sofre com seus sintomas e é atormentado pelo gozo neles abrigado tanto quanto sofrem aqueles que o procuram com suas demandas de “cura”. Freud apresenta o estranho como “aquela espécie de coisa assustadora que remonta ao que há muito conhecido, ao bastante familiar”. Ele “seria tudo o que deveria permanecer secreto, oculto, mas apareceu”, enfim, o inconsciente. E o analista deve circunscrevê-lo em sua própria análise. Lacan coloca que não há formação do analista, mas formação do inconsciente. Então, algo do analista apreendido em sua própria análise, decide de sua posição, o autoriza como analista e o permite analisar os outros. Assim, o analista está em permanente formação continuada que atesta sua capacidade de transmissor da psicanálise.

Palavras-Chave: Formação psicanalítica. Estranho. Pulsão. Inconsciente

4) A DIREÇÃO DO TRATAMENTO PSICANALÍTICO: DO FAMILIARESCO AO MAIS FAMILIAR

(Tamira Lisboa Bacha)

Pretende-se, nesse trabalho, verificar como o percurso no tratamento psicanalítico se dá, perpassando no começo da análise por toda uma narrativa que envolve os assuntos de família, como uma construção mítica, para – numa derrelição progressiva da cobertura simbólica e imaginária – aproximar-se do que do real aí se destaca, o mais familiar, o parceiro-sintoma do analisante em causa. Para tal, partiremos do artigo “O Estranho”, em Freud, objeto de nosso interesse, onde esse nos indica a antinomia (Unheimlich/Heimlich) desse termo, sendo que o que há de mais estranho pode ser concebido também como o mais familiar. Tentaremos fazer um paralelo com o conceito de extimidade, “êxtimo”, neologismo criado por Lacan para designar isso que é o objeto a, que carrega essa ambiguidade do mais exterior/mais interior. Propomos pensar aqui uma direção e um final de análise diferenciado seja a partir do conceito de estranho em Freud ou tomando como fundamento o termo êxtimo em Lacan. Com Freud, é sabido, que o final de análise tem seu “limite” no complexo de castração. Numa orientação lacaniana, Miller indica que a análise visa um mais além/aquém da travessia da fantasia, onde o analisante, ao destacar na sua formulação o objeto a, consegue cernir aquilo que lhe é mais familiar, seu parceiro-sintoma, referido ao seu modo de gozo.

Palavras-chave: estranho, familiar, êxtimo, objeto a, psicanálise.

12/07/2019

17h00

MESA 9:

  1. O ESTRANHO QUE EX-SITE NO ATO DE CONSUMO DA CONEXÃO VIRTUAL

(Eduardo Henrique Ferreira Dias)

Ao tratar “unheimlich” Freud o define como “…aquela categoria do assustador que remete ao que é conhecido, de velho e há muito familiar”. Desta forma, pelo simples fato de dar continuidade ao saber psicanalítico não só enquanto intensão, mas também, como extensão, que surge a questão do estranho na cultura em que estamos subjetivamente mergulhados. Como este estranho tem se manifestado? Sob qual posição o sujeito tem se relacionado com o mesmo? Articulando, tal contexto, aos cinco discursos do liame social, em especial com o discurso capitalista (Lacan Seminário XVII) que se pretende discutir este ex-tranho. Certamente há algo, no contemporâneo, quanto ao consumo de inúmeras conexões virtuais vivenciadas através da rede web (internet) e a subjetividade do sujeito. Que de forma inadimplente mantém seu estranho familiar seguramente distante, mas a qual custo? Aqui se abrem as comportas do estranho no laço social contemporâneo e sua relação com sujeito do inconsciente neste ato (conectar-se). Este (novo) mestre com uma faceta de bem estar, inibe a subjetividade do sujeito e evita que seu estranho apareça, pois este pseudo-objeto se quer pode ser denominado como causa de desejo, pois não há relação entre sujeitos e sim com produto de consumo, tornando o estranho, que é tão nosso foracluido nas relações sociais contemporâneas. Vamos discutir? Esta é a proposta.

Palavras-Chave: O estranho, Discurso capitalista, Liame social.

  1. O ESTRANHO LUGAR DO SINTOMA NO LAÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO

(Magali Milene Silva)

Ao usar o conto de Hoffmann como base para seu argumento, Freud (1919\1996) afirma que homem de areia é o pai enquanto castrador, o pai edípico, que aponta ao mesmo tempo a possibilidade de satisfação nas substituições culturais e sua impossibilidade plena. Será que não poderíamos aplicar ao sintoma a definição que Freud traz desse estranho familiar, quando ele afirma que “relaciona-se com o que é assustador – com o que provoca medo e horror”, e remete “ao que é conhecido, de velho, e há muito, familiar” (Freud, 1919\1996p.237; p.238)? A partir dessa articulação, proponho discutir o lugar do sintoma como estranho-familiar no laço social contemporâneo utilizando a leitura lacaniana dos discursos. Ao propô-los como laços sociais, Lacan (1969-70) traz o objeto a como mais-de-gozar, função que articula o gozo como perda, o gozo possível aos falantes, elemento que é rechaçado e silenciado nos demais discursos, à exceção do discurso do analista, em que é o agente. Presenciamos atualmente a desconsideração da face real, interrogante, sem representação do sintoma, tomando-o pela vertente da classificação, medicalização e silenciamento, que tem como efeito o retorno em mal-estar, agenciadas pelo discurso universitário e do capitalista. Freud propõe que deixemos o sintoma falar, resta-nos resgatar a força subversiva de sua proposta.

Palavras-chave: sintoma, contemporaneidade, estranho.

3)ROBÔS E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, INQUIETANTE ESTRANHEZA?

(Alexandra Cavalheiro)

Neste trabalho, proponho uma revisão da utilização das novas tecnologias tais como jogos de vídeo e a inteligência artificial, com foco nas suas interações com a psiquê humana através de suas utilizações lúdica, laboral e psicológica. Parto de uma pesquisa que reagrupa as informações mais recentes nestes domínios, passando pela utilização dos jogos de vídeo na psicoterapia e na psicanálise das crianças e adolescentes, o recurso a robôs no tratamento de crianças com necessidades específicas, sua função de companhia ou de auxilio na vida quotidiana, sem esquecer aqueles que têm sido utilizados no mercado dos lovotics – os robôs de uso sexual. Assim, esta apresentação visa indagar a pertinência deste tema, em articulação com a construção psicanalítica do sujeito. Com isto retomarei a ideia deste estranho de que nos fala Freud, em Das Unheilmliche, tocando um ramo da estética no concernente às qualidades do sentir. Freud cita Ernst Jentsch sobre essa estranheza, dizendo que ela aparece quando há : « dúvidas quanto a saber se um ser aparentemente animado está realmente vivo, ou, do modo inverso, se um objeto sem vida não pode ser na verdade animado e ele refere-se a esse respeito, à impressão causada por figuras de cera, bonecos e autômatos engenhosamente construídos ». São estes robôs produtos banais da nossa sociedade, que mimetizam o corpo humano? O que deles nos fala da relação de objeto do homem e de sua articulação com a castração? Poderemos inferir que a dimensão do imaginário, tomando como suporte a fantasia, circunda a questão do fantasma que vem continuamente ancorar-se na estrutura do sujeito. Embatemos nos limites do real, do ideal do eu, tentando encontrar o emparelhamento do real com os mundos virtuais.

Palavras-chave: Jogos de video, inteligência artificial, robótica, sujeito, robôs humanoides, relação de objeto, castra- ção, limites do real, ideal do eu, imaginário, fantasma.

4) O ESTRANHO ATUAL

(Ana Lúcia Bahia)

Neste  texto, pretendo trabalhar o conceito de “unheimlich” desenvolvido por Freud e retomado por Lacan sob a perspectiva da contemporaneidade.
Freud desenvolve este conceito a partir do tratado da estética e nos aponta que pouco se diz sobre o sentimento de estranheza. Algo deste último nos indica que o que retorna para o sujeito não é da ordem do recalcado e sim do real.
Como pensar as situações de nosso tempo, o que vem acontecendo no mundo, com o advento da rapidez das informações e com o aumento da intolerância diante das diferenças? E a repercussão destes fatos para o sujeito?
Podemos tomá-los via conceito de estranho já que o familiar é imbricado à este?
Quais as saídas que se apresentam diante desta inundação de acontecimentos?

Palavras-chave: sinistro, real, contemporaneidade, gozo

MESA 10:

1) UNHEIMLICH IMPRUDENTEMENTE POÉTICO: A FERA INFAMILIAR DO ROMANCE “HOMENS IMPRUDENTEMENTE POÉTICOS”, DE VALTER HUGO MÃE, NO POÇO DE UM PROCESSO PSICANALÍTICO

(Humberto Moacir de Oliveira)

Laurentino Gomes, no prefácio de Homens imprudentemente poéticos, último romance do escritor português Valter Hugo Mãe, sugere que um dos capítulos do livro é uma aula de psicanálise. O capítulo narra o momento em que Itaro se encontra em um poço com um animal de grande porte, porém impossível de ser identificado. Partindo do comentário de Gomes, o presente texto visa promover uma reflexão sobre como a lenda descrita no romance pode ensinar algo sobre a psicanálise. Para isso foi feita uma comparação entre o unheimlich freudiano e a fera que divide o poço com Itaro, descrita como algo estranho, inquietante e indefinido, mas que vai se revelando aos poucos cada vez mais familiar ao artesão. A comparação crítica entre o conceito freudiano e a fera que divide o poço com Itaro nos convida, confirmando a hipótese de Gomes, a uma reflexão sobre os desdobramentos da experiência analítica uma vez que, como Itaro, o analisando também acaba por “amigar-se ajuizadamente” do objeto inquietante que se esconde por trás do recalque e que se revela, para usar uma definição lacaniana do objeto de angústia, um hóspede hostil (hôte hostile).

Palavras-chave: Homens imprudentemente poéticos, Valter Hugo Mãe, psicanálise, unheimlich, objeto a.

2) CRIAÇÃO LITERÁRIA: UMA FORMAÇÃO DO INCONSCIENTE?

(Marcelo Gonçalves Campos)

A proposta do presente trabalho é investigar, através do pensamento freudiano, em que medida a criação literária poderia ser considerada como algo similar às formações do inconsciente. Este é um tema que diz respeito à conexão da psicanálise com outro campo de saber, a literatura. Tal interlocução não é estranha à produção teórica freudiana, podemos mesmo afirmar que o diálogo com a literatura está disseminado em toda a obra de Freud: para ilustrar ou validar determinado ponto da teoria, para compreender algo deste processo de criação artística, para interpretar psicanaliticamente uma obra específica. A partir de algumas formulações freudianas sobre a literatura nos questionamos se a mesma poderia ser considerada como algo similar às produções mentais do sonho e do sintoma, e quais consequências poderíamos extrair daí caso esta hipótese se confirme.

Palavras-chave: Literatura, Formação do Inconsciente, Psicanálise.

3) “CADA VEZ MAIS ESTRANHO”: O ESTRANHO E O FAMILIAR NAS OBRAS “ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS” E “ALICE ATRAVÉS DO ESPELHO”

(Claudete Justino Correa)

O presente trabalho busca analisar os aspectos através dos quais a narrativa da obra “Alice no País das Maravilhas” e “Alice através do espelho” permitem a relação com o conceito psicanalítico de O estranho (unheimlich). Para tanto, articularemos elementos nas obras que atravessam o Inconsciente e discutiremos como Lewis Carroll elaborou sua obra com elementos de linguagem que permeiam o nonsense. Alice ao entrar no País das Maravilhas se depara com situações e criaturas bizarras, uma alusão ao absurdo e sensações de estranhamento naquilo que há de familiar, a saber, as suas próprias fantasias, uma vez que, a menina despertou do sonho que permitiu a entrada ao mundo das maravilhas. Alice sente medo e inquietação diante dos acontecimentos de sua narrativa, tais sentimentos podem ser relacionados ao fato de que as experiências vividas por ela no País das Maravilhas defrontam o absurdo, o que ocasiona um sombreamento da linha entre o real e o imaginário. Podemos observar o trabalho nonsense de Carroll através da linguagem que conduz a sua personagem principal e seus leitores à confusão e às dúvidas, o mundo nonsense é o mundo das palavras e não do real. Por fim, Alice indica que o País das Maravilhas é uma representação significativa do que se passa no Inconsciente, estranho e ao mesmo tempo familiar.

Palavras-Chave: O estranho: Inconsciente; Alice no País das Maravilhas; Nonsense; Psicanálise.

4) UM ESTRANHO DE CARÁTER POSITIVO

(Edson Siquara de Souza)

Me é estranho encontrar de forma recorrente Schiller sendo citado por Freud em seus textos. Neste artigo pretendo defender uma concepção de Estranho que corrobora o entendimento de Schiller sobre a experiência estética, esta ligada a um conceito de liberdade que fundamenta sua filosofia e que destaca uma sensibilidade especial da humanidade. Para Schiller, quando o homem está ainda em formação não tendo nem razão nem sensibilidade formados, se encontra em um estado de liberdade, pois não é coagido por duas forças que quando surgirem estarão normalmente em oposição. Quando da primeira representação, em que sensibilidade e razão atuam simultaneamente, a primeira para entender e a segunda para dominar, é criado a partir deste instante uma divisão no homem que jamais o deixará. Para Schiller a experiência estética, principalmente na apreciação da Bela Arte, dá oportunidade ao sujeito sentir algo que lhe é estranho, mas prazeroso, que para Schiller é um sentido de liberdade que o sujeito já teve (daí sua universalidade), mas, no entanto, o faz declarar como Belo o objeto (segundo Kant uma experiência também de caráter universal). Acredito que o texto freudiano autoriza essa interpretação, principalmente no capítulo III do “O Inquietante”. Entendo que o fundamento da filosofia de Schiller (e creio também de Fichte) recebem o apoio teórico fruto da experiência psicanalítica neste texto especialmente, mas encontramos indícios deste “apoio” teórico também em outros textos freudianos.

Palavras-chave: Estética. Schiller. Psicanálise.

MESA 11

1) A ESTRANHA GAROTA DINAMARQUESA: O RETORNO DA VERDADE RECALCADA

(Helena de Almeida Cardoso Caversan / Mardem Leandro Silva / Daniela Paula do Couto / Elizabeth Fátima Teodoro / Roberto Lopes Mendonça)

Este trabalho faz parte da produção da pesquisa de iniciação científica “A arte imita a vida: articulações entre Psicanálise e cinema”, desenvolvida na UEMG Divinópolis e que objetiva fornecer subsídios ao alcance clínico da lógica conceitual analítica. Apresenta-se uma leitura psicanalítica do filme “A garota dinamarquesa” pelo viés conceitual do texto de Freud, “O estranho”, e textos correlatos ao recorte temático do trabalho. O filme conta a história do pintor Einar, que passa a sentir um estranho e insuspeito desejo de se vestir como mulher. Os desencontros desse desejo o levam a experimentar um outro lado de sua sexualidade com o qual muito rapidamente se identifica a ponto de considerar a possibilidade de transformar seu corpo de homem em um corpo de mulher, com o auxílio de uma intervenção cirúrgica. Na tentativa de alcançar um conhecimento sobre a angústia de sentir-se um estranho em seu próprio corpo, afeto que atormenta Einar e que o leva a assumir a condição de mulher em meio à desordem da incompreensão social que o cerca, recorre-se à conceituação freudiana do estranho, que trata do retorno do recalcado como algo que pode ser assustador, mas que paradoxalmente guarda uma relação com o que é mais íntimo ao sujeito. Além de tal conceituação, recorre-se ao texto “Bate-se em uma criança”, para tornar saliente a estranheza do teorema freudiano da constituição bissexual dos seres humanos e o recalcado como índice da sexualidade alienada ao desejo do outro.

Palavras-chave: estranho; bissexualidade; recalque; fantasia; desejo.

2) INFAMILIARIDADES ENTRE TEORIAS PSICANALÍTICAS E TEORIAS DE GÊNERO

(Carla Rodrigues)

O objetivo desse trabalho é circular em torno de três significantes – identificação, identidade e identitário – a fim de pensar suas infamiliaridades e seus usos tanto em teorias psicanalíticas como em certa filosofia de matriz pós-estruturalista. Em cada um desses campos, os termos estão destinados a designar noções distintas, porém próximas. Produzem, assim, pontos de aproximação e distância, numa experiência de infamiliar como a que nos fala Freud quando escreve: “o infamiliar é uma espécie de aterrorizante que remete ao velho conhecido, há muito íntimo” (FREUD, 2019, p. 33). Menos uma combinação de elementos opostos, mais complementos que podem marcar a nossa relação com objetos, haveria na noção freudiana uma espécie de gradação capaz de tornar cada vez mais estranho aquilo que nos é mais familiar. Minha intenção é delinear buances e distinções entre o uso desses três termos a fim de argumentar que, sem que filosofia pós-estruturalista e psicanálise explicite o que está pretendendo dizer quando usa significantes como “identificação” e “identidade”, e “identitário”, o que se produz é um conjunto de mal entendidos que se reproduz no debate entre teorias psicanalíticas e teorias feministas de matriz pós-estruturalistas.

3) ESTRANHEZAS (EN)CORPADAS: A SEXUALIDADE COMO MAL-ESTAR

(Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly)

O trabalho aponta, a partir de duas situações clínicas, de transexualidade e homossexualidade, como o apoio (Anlage) do desejo do corpo sobre o real do organismo deixa, inevitavelmente, uma brecha de inadequação. Desta brecha, o mal de estar nesta ou naquela posição de orientação sexual e as justificativas que se utilizam para assegurar um lugar como posicionamento subjetivo. A sexualidade é uma das faces do processo que transcorre da Alienação à Separação; quais sejam a Sexuação, a Identificação e a Filiação. Deste processo, advêm estratégias de assentamento imaginário-simbólico de cada um em seu cada qual, como arremedos que não elidem, mas que sustentam o mal-estar da cultura que habita o humano, dissociado da natureza, do instinto e do sossego que a animalidade traria. Deficiente instintual, o humano claudica nas escolhas sexuais, de trabalho e de endereçamento pulsional que buscam objetos (em) vão(s). Dos vãos da busca (im)possível, o sonho de encontro e apaziguamento do desejo trazem questões a esta contemporaneidade em transição histórica; quiçá transição das formas de constituição do sujeito.

Palavras-chave: Psicanálise, Estranho, Transexualidade, Homossexualidade, Orientação Sexual.

4) DO UNHEIMLICHE AO QUEER: A ESTRANHEZA DA VOZ EM PABLLO VITTAR

(Vinícius Moreira Lima)

Iniciaremos este trabalho discutindo algumas aproximações entre o conceito freudiano do estranho (Unheimliche), tal como elaborado no texto de 1919, e o surgimento do queer, que se transformou em um significante de resistência política ao longo da década de 1990. Desde Freud, tal como relido por Lacan, o estranho se define pela inquietante aparição de um objeto – o objeto a – que o sujeito não pode reconhecer na imagem especular (Quinet, 2009). Por sua vez, a emergência do queer na cena da cultura se dá inicialmente não como um saber acadêmico ou universitário, mas antes, como uma forma de contestação em relação à “identidade gay” que se formou ao longo da década de 1980 nos Estados Unidos, identidade que buscava normatizar a própria homossexualidade (Sáez, 2004). Dessa maneira, realizando uma crítica da normalização identitária, o queer orbita em torno de uma dimensão do sujeito que resiste a toda tentativa de captação ou regulação pelas normas sociais, buscando cernir esse estranho resíduo não-identitário que insiste na subjetividade. Seria possível pensar o queer como umas das formas contemporâneas de apresentação do Unheimliche? Como relacioná-lo à invenção lacaniana do objeto a? Tentaremos promover essa articulação a partir da forma como Pabllo Vittar se virou com sua voz, tomada como um objeto estranho ao corpo, para a construção de sua artista drag.

Palavras-chave: estranho (Unheimliche); queer; identidade; psicanálise; objeto a.

MESA 12:

1) O ESTRANHO DA BARRIGA

(Marcilena Assis Toledo)

Penso que tornar-se mãe é um processo constitutivo que passa inevitavelmente pelo mesmo processo de alienação/separação da constituição do sujeito. Alienado ao Outro materno é dali que o sujeito partirá com seu referencial identificatório para edificar sua identidade maternal, sua posição subjetiva diante do significante mãe. Se uma menina encontra em sua mãe um tipo específico de maternagem que pode determinar conflitos nessa relação, quais os efeitos que esse ideal pode ter na relação desta futura mãe e seu bebê? A pergunta que o sujeito direciona ao Outro – Che vuoi? indica um desencontro de desejos marcando o ponto de falta inerente ao sujeito, da busca incessante da relação de completude sempre fadada ao fracasso, onde Lacan diz da impossibilidade da relação sexual e da mulher sempre castrada. Se o processo de constituição do sujeito tem no pai o terceiro que promove a separação dessa relação dual mãe/bebê, esta mãe enquanto mulher castrada deverá estar referida a um homem como referencial fálico. Aquele que aponte para a diferença dos sexos e se torne um causador de desejos quando toma a mulher como objeto causa de seu próprio desejo. Se um bebê existe, antes do seu nascimento no psiquismo materno e paterno tomando um lugar na vida dos pais, estes lugares têm a possibilidade de serem construídos em um processo analítico. O trabalho de significação e resignificação do lugar da representação simbólica da mulher que se tornar mãe e do lugar do homem que se torna pai resulta no lugar possível de ser oferecido ao bebê no desejo dos pais. Assim, através de um fragmento clínico de uma análise que passou por uma gestação, “o estranho da barriga” pode torna-se um rebento que chega ao mundo ocupando um lugar de objeto precioso.

Palavras-chave: Maternidade; gestação; paternidade.

2) O ESTRANHO FAMILIAR NA CLÍNICA COM BEBÊS

(Rosely Gazire Melgaço)

De início, algo se constata: a chegada de uma criança nem sempre é sinal de total felicidade. As relações dos adultos com as crianças tomam formas e modalidades diferentes e específicas, e há algo universal: essa relação é fundamentalmente contraditória e ambivalente. Cada um vai ter algo particular a dizer sobre o que é o bebê. A Ciência pode ser colocada pela família como a mãe potente, e onipotente, aquela que tudo sabe, tudo pode, e tudo tem para dar a um bebe, contrário àquela mãe real que ali se apresenta com todas suas inúmeras fragilidades e incompetências. Esse encontro com a criança, com o real, pode, assim, se produzir e se revelar maciçamente traumático, seja para pais, seja para profissionais. Uma história ali inicia seus traços com sulcos da herança, da transmissão, do desejo, dos segredos, do caos, do sonho e ilusão, do ideal, da angústia e das falhas. Pais, cuidadores, profissionais e os que estão ao redor vivem um confronto com o Infantil de si mesmos. O acontecimento “surgiu um bebê” remete-nos a pensar o Estranho Familiar, conceito proposto por Freud. Ele nos apontou este termo em seus estudos sobre o Umheimlich – tudo aquilo que é familiar, mas ao mesmo tempo causa estranheza. O Estranho é uma manifestação do Real, é o nome de tudo que deveria ter permanecido secreto e oculto, mas veio à luz. Poderíamos dizer que desde a gestação de uma criança observa-se esse fenômeno: Estranho familiar, Estrangeiro ou ainda Familiar estranho, e nesse contexto do Real que se apresenta, uma série de desdobramentos vai se manifestar.

3) O ESTRANHO FAMILIAR NO SINTOMA DOS PAIS: UMA LEITURA DE “NOTA SOBRE A CRIANÇA” À LUZ DE “O ESTRANHO” (Daniela Paula do Couto / Ângela Maria Resende Vorcaro )

Se tomarmos a ambivalência que Freud verifica no significado da palavra heimlich a ponto de ela coincidir com o oposto unheimlich, podemos pensar o sintoma dos pais como um estranho familiar. Como Lacan nos ensinou, uma das formas do sintoma na criança é aquela que representa a verdade do casal parental, verdade essa recalcada que retorna nas manifestações da criança, por isso estranha a eles, mas ao mesmo tempo da ordem do mais intimo por responder à lei do desejo. Nessa vertente do sintoma, a criança se dilui no fantasma do par parental, alienada que está ao significante que nomeia o desejo deles. Submetida à lógica dessa nominação, a criança terá que se haver com os significantes paternos, já que para adentrar o campo da linguagem e do desejo, ela precisa se alienar ao Outro para depois constituir seu próprio fantasma. Aqui, a transferência ao analista pode oferecer suporte para que a criança escreva o seu sintoma, agora desalienado – ainda que parcialmente – do sintoma parental. Palavras-chave: sintoma dos pais; sintoma da criança; estranho; fantasma.

4) A MATERNIDADE: UMA VESTIMENTA DO ESTRANHO?

(Senhorinha Ribeiro de Oliveira Santos Silva)

A saída edípica para menina quase corriqueiramente, aponta na direção da maternidade como uma suposta solução diante da castração. Mas efetivamente a maternidade é uma experiência que universalmente experimentamos, seja na posição de filhos ou de fato, no lugar de mãe. E essa realidade nos afeta a todos, em cada particularidade. Todavia, apesar de ser um lugar comum e familiar, a maternidade se distingue em descortinar uma estranheza ímpar, tendo em vista que o puerpério se mostra peculiar nesse processo de transformação de uma mulher em mãe. A chegada do bebê promove não somente a queda de ideais direcionados ao filho, o qual, até então integrava o corpo da mãe, como um membro aderido, promovendo um impacto significativo na relação entre eles. Mas, além disso, promove ainda uma transformação da imagem própria, frente a qual, a mãe vai precisar resignificar sua identidade e ao mesmo tempo, precisará atribuir um novo significado à experiência da maternidade, que a partir do nascimento do bebê, passa a acontecer em outra intensidade. A proposta deste texto é aventurar-se nas trilhas desse percurso obscuro da maternidade, tendo em vista que é um lugar a ser construído, desconstruído e reconstruído a cada momento com o bebê, considerando esse cenário a partir da leitura da obra freudiana “O estranho familiar”.

Palavras-chave: maternidade, puerpério, estranheza, mal estar, identidade.

13/07/2019

10h30

MESA 13:

1) A ALTERIDADE E O ESTRANHO/FAMILIAR DA PULSÃO DE MORTE

(Letícia Santos Cerqueira / Hugo Silva Valente)

As vias de acesso ao inconsciente, de acordo com Freud, são abertas pelo que escapa ao controle da articulação consciente, pelo que falha nos fenômenos de linguagem, ou seja, pelos atos falhos, sonhos, chistes, esquecimentos e sintomas. Freud percebe também que há outra via de acesso às formações do inconsciente, sem dúvida ligada às primeiras: uma “demoníaca” compulsão à repetição que insiste em se atualizar na relação transferencial. Seguindo a lógica dos componentes comuns no sofrimento mental, a saber, a auto recriminação, a culpa, a hostilidade, a punição e a repetição, Freud constrói o conceito de pulsão de morte oferecendo novas ferramentas clínicas de investigação sobre o mal-estar. A metapiscologia do supereu funciona como um recurso teórico para dar conta das das relações entre pulsão de morte e mal-estar. Com o conceito de ‘complexo do próximo’ – o jogo que ocorre na emergência do humano, percepção do objeto que simultaneamente representa o elementar objeto de satisfação e o primeiro objeto hostil, por meio do qual o humano aprende a discernir – Freud aponta para um aparelho psíquico que só existe a partir de sua relação com o mundo, com o outro. Essa ambiguidade fundamental da relação do sujeito com o outro deixa suas marcas de estranheza, fonte de angústia, como apresentado no texto “Das Unheimliche”. Neste trabalho conduziremos uma discussão a respeito dos conceitos de sujeito, inconsciente, pulsão de morte, supereu e complexo do próximo como possibilidade de articulação entre ‘o estranho’ e o mal estar constituintes tanto do sujeito quanto da cultura em que ele habita.

Palavras- chave: pulsão de morte, estranho, complexo do próximo e cultura.

2) CORPOreIDADE E O TEMPO EM SUA ATEMPORALIDADE

(Camila França Silva Simões / Fabiana da Silva Melo / Rogéria Araújo G. Gontijo / Cláudia Ferreira Melo)

O processo de envelhecimento é natural, progressivo e irreversível. Biologicamente, o envelhecimento é inevitável, a despeito de todos os esforços da ciência. O envelhecimento do corpo biológico, aquele sobre o qual não há palavra que imponha ordem, nos mostra uma imagem não mais condizente com o ideal que guardamos. Há o não reconhecimento do corpo velho. Ao se colocar frente a ele, o estranho se revela. O reflexo que se tem não é de algo desejado e não corresponde ao que realmente deveria ser contemplado. O sujeito não se reconhece como velho, nomeando, imediatamente, o outro como tal; a velhice está no outro e não no próprio que a nomeia. A despeito de um corpo envelhecido, existe um sujeito desejante, que não envelhece: o sujeito do inconsciente.

Palavras-chave: Velhice; Corpo; Psicanálise

3) O HOMEM DA PÉRGOLA: PRECARIEDADE E ESTRANHEZA DO SUJEITO NA CONDIÇÃO TOXICÔMANA

(Gilberto do Rosário Moreira / Juliana Marçal)

O trabalho apresenta a articulação de aspectos da leitura d’O Estranho de Sigmund Freud (1919) a um recorte clínico. Freud traça uma linha entre o pensamento mágico, a estética e o retorno do recalcado para indicar a inquietação causada por algo que deveria permanecer oculto, mas vem à tona. Interessa-nos, aqui, a dimensão precária daquilo que retorna e subverte repetidamente a lei do recalcamento e nos direciona a condição primitiva da constituição psíquica em que elementos duplos tais como exterior/interior familiar/estranho são primordiais (Coelho Jr e Martini, 2010). Este aspecto primitivo do Unheimlich é aqui sustentado através de fragmentos do atendimento de um homem internado para tratamento de adicção em uma Comunidade Terapêutica. Podemos sustentar que a toxicomania emerge como uma tentativa de resposta aos avatares do fracasso da satisfação sexual, favorecendo o curto-circuito na relação com o Outro sexo. No caso do sujeito em questão, a precariedade de suas relações primordiais e atuais, bem como o impacto das mesmas sobre seus atos toxicômanos indicam que esses atos emergem como via de descarga das intensidades psíquicas não elaboradas que parecem eclipsar e anestesiar um sujeito dilacerado pela dor (Rutsatz e Macedo, 2015). Diante disso, a prática analítica é desafiada por este sujeito precário, relacionado a um modo de gozo exclusivo, a operar com sua intervenção pela palavra que resgate a possibilidade de articulação ao campo do Outro.

Palavras-chave: O Estranho; Toxicomania; Precariedade; Constituição Psíquica; Outro.

4) AMOR NOS TEMPOS DA AIDS: O “ESTRANHO” DO DIAGNÓSTICO DE HIV QUE RETORNA NAS CANÇÕES DE RENATO RUSSO

(Fabiana Cristina Teixeira / Jacqueline de Oliveira Moreira)

A AIDS esteve para os anos 1980 de modo semelhante à tuberculose para o final do século XIX. De forma análoga, a AIDS trouxe à tona inquietações diversas, tornando inevitável a reflexão sobre a finitude, além de revelar algo da intimidade, até então no campo do privado. Em Psicanálise o tema da AIDS já fora associado ao fenômeno do estranho em Freud, sobretudo ao considerar o vírus como “estrangeiro”, “invasor”, produzindo efeitos de estranhamento e inquietude psíquicas, reativando processos infantis de castração, revelando limitações orgânicas e trazendo consigo a manifestação de outras doenças oportunistas. O tema da estranheza da AIDS se presentifica em canções da Legião Urbana que tratam da morte e do estranhamento diante do viver, como Feedback song for a dying friend, L´age d’or, Metal contra as nuvens e A via láctea, canções que sinalizam para o encontro com a possibilidade de morte, com versos como “não tem volta por aqui” e “a verdade assombra”, “tudo está perdido”, “hoje a tristeza não é passageira, hoje fiquei com febre a tarde inteira”. Ao analisar as canções de modo textual, percebemos que a estranheza do HIV torna-se evidente nas produções que coincidem com o diagnóstico do compositor, destacado no álbum “V,” que já se inicia com o amor mortífero da faixa Love song e é finalizado com o silêncio da música instrumental de Come share my life. A morte iminente associada ao diagnóstico naquele contexto percorreu a obra a partir de então, destacando a marca da finitude, acenando ao desamparo frente à castração que se revela ali de modo implacável.

Palavras-chave: estranho – finitude – AIDS

MESA 14:

1) O ESTRANHO FAMILIAR NA RESIDENCIA HILL

(Janilton Gabriel de Souza / Michael J. Lopes Ferreira/ Roberto L. Mendonça)

Esse trabalho busca analisar e exemplificar os termos acerca do sentimento de Estranho na ótica psicanalítica em Freud (1919/1996), como o estado animista, a onipotência dos pensamentos e o duplo, a partir na narrativa de cenas da série A Maldição da Residência Hill (FLANAGAN, 2018). A palavra Unheimlich, tomada nesse texto com a tradução de Estranho, estudada etimologicamente em alemão por Freud para a definição de uma sensação específica: algo que amedronta, algo recalcado causador de angústia que retorna como um estranho que inquieta. Para o que Freud apresenta como uma superenfatização da realidade psíquica, em detrimento da realidade material, esse trabalho pode proporcionar apreensão dos conceitos acerca do Estranho tratados na psicanálise. Outro conceito importante abordado na gênese do sentimento de estranheza, a castração, é levantado nesse trabalho em sua relação estreita com o recalque, condição necessária para o retorno na forma de algo estranho. Na interface entre Psicanálise e a arte, busca-se um cenário para a leitura do Estranho e as implicações que o envolve, como o duplo, o estado animista, a magia, a crença na alma e a onipotência dos pensamentos. Em uma trilha já caminhada por Freud, em sua análise do conto O Homem da Areia, para a apuração desse sentimento que inquieta pelo medo, mas também pelo que tem de familiar.

Palavras-chave: Estranho; duplo; onipotência dos pensamentos; arte.

2) A ESTÉTICA DO FASCISMO EM “AMARCORD”DE FREDERICO FELINI

(Maria Barcelos de Carvalho Coelho)

Amarcord, no dialeto da cidade natal de Felini – Rimini – significa, “Io me ricordo” O filme, um exercício de memória, não pode ser pensado apenas como um tema memorialístico. Ele vai além e entra na dimensão lógica do tempo do inconsciente. A reminiscência, desconexa e onírica, encadeia-se numa narrativa, onde a nostalgia, o humor e o satírico, dão o tom da trama. Os habitantes, despertos de um longo sono invernal festejam a primavera onde a personagem adolescente, Tita e seus colegas, encenam em suas travessuras, o desejo inconsciente de liberdade. O pano de fundo da história é a década de 30/40, quando o fascismo do ditador Benito Mussolini entranha em cada poro da pequena vila. O lema, “Deus, Pátria, Família”, é o ideal que sacramenta as ações dos habitantes e permite ao diretor construir as belas alegorias que se sucedem numa montagem poética de grande beleza. Destaco uma alegoria, onde, numa marcha cívica, Mussolini é representado através duma pantomima – um grande rosto de papelão. No meio da multidão, alguém grita: “Duce, tu és a soma de todos nós”. A fumaça, que obscurece a figura do ditador, pode estar aí metaforizada como a soma de todas as pulsões agressivas que se enlaçam aos indivíduos ou em qualquer grupo, independente da cor ideológica ou partidária. Amarcord, explorando o limite entre o trágico e o risível mostra o fascismo (fasce) em sua expressão mais flagrante: o exercício da política como espetáculo, ritualizada e narcísica. Freud, em “O estranho”, abre a possibilidade de incluir a semiótica do cinema no campo da criação ficcional, onde o espectador participa da “realidade poética” do diretor. Ao apresentar o unheimlich, pelo imaginário do autor criativo, o mundo fantástico de Felini nada teria de assustador. Suas criações alegóricas seriam a tradução estética dos códigos secretos da realidade psíquica, onde a memória se desdobra e se expressa pela linguagem de um poema.

Palavras-chave: fascismo – memória – realidade poética – alegoria – unheimlich

3) BLUE VELVET E A INQUIETANTE ESTRANHEZA

(Nestor Lobo Lima Vaz)

Esse texto se originou de uma tentativa de elaborar algumas questões suscitadas por um filme de David Linch, Blue Velvet, a partir do campo psicanalítico em seus elos com a arte e a literatura. Destacamos, como ponto de conexão, o tema desenvolvido por Freud em 1919 sobre Das Unheimliche, significante único da língua alemã, traduzido para o português como “O Estranho” e para o francês como “A Inquietante Estranheza”, tradução que adotaremos por se aproximar um pouco mais do termo alemão. A questão que vai perpassar seu texto é como o familiar se transforma na inquietante estranheza e de uma forma mais destacada de como se conjugam e se separam os significantes Heimlich e Unheimlich. Freud reúne as várias significações de Unheimlich derivando inicialmente de seu oposto Heimlich como o que pertence a uma casa, familiar, de confiança e íntimidade mas também como aquilo que permanece oculto, fazer algo de oculto. Contudo o que importa para Freud é quando o significado de Heimlich se confunde com o significado de Unheimlich passando do pólo do familiar e do agradável para o outro pólo do clandestino e o que se mantém oculto. O cinema também nos coloca defrontados com o tema da “inquietante estranheza” e nos oferece, no plano de consistência da imagem, um mundo multifacetado, tal como nos mostra David Lynch, onde se cruzam, ao mesmo tempo e na mesma cena, o neurótico e o perverso, o desejo e o gozo, o visível e o invisível.

Palavras-Chave: Heimlich. Unheimlich. Cinema. Desejo. Gozo.

4) A FANTASIA E O TESTEMUNHO: A INFAMILIAR NARRATIVA NO CINEMA AUTOBIOGRÁFICO

(Ana Luisa Sanders Britto)

A narração sobre uma experiência vivenciada remete ao lugar de dar testemunho sobre determinado evento. Essa posição de enunciação da testemunha coloca em questão a implicação de certo grau de ficcionalização na elaboração da narrativa sobre o acontecimento, decorrente da distância entre o fato ocorrido e do que dele pode se dizer. Para Freud, em seu texto (1899) contemporâneo ao período do nascimento do cinema, mesmo que haja um valor de recordação na lembrança encobridora, esta pode ser considerada como fantasia. A imagem em psicanálise seria, então, essa lembrança encobridora, uma cena que se coloca para encobrir outra, da experiência traumática, mas que ainda permite “colocar em cena” os desdobramentos dos significantes da fantasia. Assim, pretende-se refletir sobre a experiência inquietante da fantasia em relação ao trauma, a partir do dispositivo da ficção inerente ao testemunho no cinema autobiográfico, pelo curta-metragem “Todas as casas menos a minha” (2017) da artista mineira Julia Baumfeld. O filme escolhido trata de uma produção artística feita a partir da recuperação de arquivos de família da cineasta, no qual a montagem das imagens do passado é acompanhada por seu presente testemunho sobre si mesma. Para tal análise, faz-se necessário evocar O Estranho (1919) para discutir sobre o inquietante de se colocar diante de cenas tão familiares, que remontam às experiências traumáticas dos complexos infantis e as fantasias construídas no discurso, colocando em questão o lugar da construção de narrações a posteriori dos acontecimento nos processos de temporalidade.

Palavras-chave: Psicanálise; Cinema autobiográfico; Testemunho; Fantasia; Trauma

MESA 15:

1) ESTRANHO CORPO E UM CORPO ESTRANHO

(Flávia Parizi Pedroso Coelho)

Freud, no texto “O estranho”, nos aponta que o que aparece como estranho ao eu tem relação com o que é familiar. Destaca a repetição involuntária como uma compulsão à repetição, que coloca em questão o domínio do eu. Freud, assim, desvela que há um descompasso entre a vontade do eu, sua imagem narcísica, e o corpo próprio, entendido como campo pulsional. Nesse sentido é que corpo, como substância de gozo, é um estranho-familiar, lugar êxtimo ao ser falante. Na atualidade há uma grande tendência a tratar os aspectos subjetivos e éticos do ser falante como orgânicos, referidos a uma localização cerebral. Na contramão, muitas vezes, da proposta da psicanálise, que é a de fazer falar sobre esse estranhamento e não necessariamente silenciá-lo. Nesse sentido, buscou-se trazer uma vinheta de um caso para exemplificar que, apesar das promessas cientificistas articuladas ao discurso capitalista, algo do corpo falante, mesmo medicalizado, apresenta-se como estranho aos discursos totalizantes, demandando a escuta do analista.

Palavras-chave: corpo, estranho, medicalização.

2) O RETRATO DE UM DUPLO

(Ana Maria Fabrino Favato)

Pretendo desenvolver o tema do duplo como manifestação do infamiliar, como o retorno inesperado da imagem de si mesmo, a percepção de um socius, que provoca repulsa, resíduo da aparição do duplo, um outro que traz a marca da semelhança e da diferença. O exemplo clássico do fenômeno do duplo é buscado na literatura com o clássico de Oscar Wide “O retrato de Dorian Gray”. No romance, em vários momentos, nos encontramos diante de sentimentos de horror frente ao duplo, ou mesmo de angústia diante da onipotência das ideias e de estranheza pelo gênero fantástico da ficção. Além do mais, nos deparamos com um enredo que traz uma verdadeira exaltação à beleza e ao sublime, mas também a sua contrapartida – o horror, o demoníaco.

Palavras-chave: narcisismo, infamiliar, angústia, real

3) O OUTRO, ESSE ESTRANHO FAMILIAR

(Maria Cristina Martins Moura)

Partimos de  um vídeo que mostra  uma pequena criança assustada, chorando, correndo e culminando com sua queda frente à  presença de um estranho que a acompanha em todas as direções. A cena do bebê que vivencia muita angustia diante de sua própria sombra, convoca-nos ao trabalho. Não se trata de uma interpretação, até porque aquela criança não encontra-se em análise conosco. Mas, frente ao tema do X Fórum Mineiro de Psicanálise,  ” Das Unheimliche” ocorreu-nos tomar a experiencia do bebê como clínica; e definir uma passagem  da clínica  à teoria tão importantes na transmissão da psicanálise. Propomos pensar a  partir do vídeo a divisão do sujeito,  onde o $ inscreve dois campos distintos: Um Eu, representado pelo bebê que corre, e Um Outro representado por sua própria sombra. Se por um lado o estádio do espelho representa uma antecipação jubilatória da imagem especular como  formador da função do Eu,  o  Unheimliche,  esse estranho familiar  procedente das moções pulsionais,  instaura um  campo: o campo  do Outro.  A ambiguidade do conceito de heimiliche e unheimliche refletem o quanto o susto da criança, prenuncia que o secreto veio à luz. Isso não é sem angustia. Estranha condição de Sujeito!

Palavras-chave: estranho, estádio do espelho, sujeito

4) O EU E O OUTRO – UMA ESTRANHA DUPLA

(Viviane Gambogi Cardoso)

A atração pelo fantástico, pelo sinistro é pelo desconhecido foi a mola propulsora para iniciarmos um trabalho que, paradoxalmente, remeteu-nos a algo tão familiar- o eu. Familiar? Talvez possamos considerá-lo tal em alguns momentos, ao passo que em outros nos apresenta como terrivelmente estranho. No contexto deste paradoxo familiar/desconhecido, tentaremos abordar o texto freudiano Das Unheimliche, via trilhamento da formação do eu em sua dialética com o outro. Este caminho nos conduzirá à questão do outro como semelhante, como sujeito, como o lugar a partir de onde o ego se constitui. Ao privilegiarmos está démarche, inevitavelmente passaremos pelas vias da identificação, ou seja, “o processo de transformação de um sujeito à imagem e semelhança de um outro (Freud, 1974). É a identificação que possibilita a discriminação eu/não-eu, o que, consequentemente, despertara o fenômeno do duplo, teorizado por Freud em Das Unheimliche.

Palavras-chave: Eu. Outro. Identificação. Das Unheimliche.

MESA 16:

1) FENÔMENOS ELEMENTARES DA PSICOSE:UM ESTRANHAMENTO DO MUNDO

(Roberto Lopes Mendonça)

O fenômeno elementar é um dos critérios principais de diagnóstico que Lacan extrai de Clérambault para dar conta da irrupção da psicose. É tido como o momento de perplexidade do sujeito frente a um desmoronamento inicial da realidade. Este é o momento que Maleval (2002) chama de deslocalização do gozo e perplexidade angustiada. Tomando como base o Seminário 3 de Lacan (1955-1956/2002) e o pensamento de Schreber (2006) de como deve ser belo ser uma mulher no momento do coito, pretende-se discutir como o retorno do recalcado (Freud) ou do que foi foracluído (Lacan) surge como um momento de estranhamento do mundo e pode ser tomado como a chave para o entendimento da construção do delírio de Schreber. Se para Freud (1924/1996) o segundo momento da defesa, tanto na neurose quanto na psicose, é caracterizado por uma rebelião do Isso contra o mundo externo, propomos buscar ligações entre a ideia de fenômeno elementar e a ideia de estranhamento apresentada por Freud (1919/1996). Supomos poder apresentar o retorno no Real daquilo que foi foracluído no Simbólico (psicose), com um mecanismo semelhante do que foi recalcado no Simbólico e retorna no próprio Simbólico (neurose). Ainda que sejam processos distintos devido à estrutura, o estranhamento frente àquilo que retorna se apresenta como fenômeno importante a ser observado na clínica, configurando-se para o sujeito como um momento de angústia que precisa ser sanado, seja pela via do sintoma, seja pela via do delírio. Palavras-chave: fenômeno elementar, psicose, estranho.

2) NÃO TEM NADA QUE ME SIRVA: O SUJEITO ÀS VOLTAS COM O ESTRANHAMENTO DO CORPO

(Juliana J. Marçal / Elaine C. Azevedo)

Este trabalho pretende apresentar, tendo como referência um caso clínico, algumas considerações sobre o caráter de estranheza do corpo transformado a partir do acesso do sujeito a estratégias de intervenção sobre os corpos que ciência e tecnologia contemporâneas possibilitam. A partir do caso se faz possível perceber a insuficiência do semblante de corpo forjado a partir das referências imaginárias extraídas do discurso do mestre – seja através do imperativo proveniente do pai ou das ofertas contemporâneas da medicina – na construção de uma resposta definitiva diante do gozo apresentado no encontro com o Outro do sexo. Sustenta-se que está no próprio cerne da psicanálise, desde o tratamento dos sintomas histéricos empreendidos por Freud, passando pela emblemática delimitação do conceito de pulsão, que a experiência do corpo pelo sujeito não é sem estranheza, fazendo-se pertinente também considerar a vinculação do caráter de estranho ao que é familiar e íntimo e ao mesmo tempo estranho e exterior, conforme nos indica a temática do Estranho (Freud, 1919). Neste sentido, torna-se necessária para a constituição do corpo próprio a articulação do sujeito à referência proveniente do campo do Outro que possibilitará ao sujeito à assunção de um lugar no desejo do Outro. Assim, considera-se a que à perspectiva clínica da psicanálise importe favorecer que o sujeito busque saídas singulares e possíveis diante destes imperativos de forma a melhor localizar-se no campo do Outro.

Palavras-chave: clínica psicanalítica; corpo; estranhamento.

3) ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O AUTISMO E A PSICOSE UM ESTUDO DE PSICANÁLISE

(Daiany Rhayra Furtado / Tânia Ferreira)

O artigo tem como objetivo discutir as distinções presentes no autismo e na psicose, visto ser dois conceitos fundamentais em psicanálise que se apresentam atualmente como um grande desafio para a prática clínica. Para alguns autores, na atualidade, essa distinção não tem sido objeto de estudo, mesmo no campo da psicanálise, embora os dois tipos clínicos estejam em evidência na clínica particular, grupos, ou instituições é necessário o esclarecimento destes conceitos. Diversos autores têm se debruçado sobre este tema, questionando a partir da prática clínica, qual seria a definição do autismo, se estaria incluído nas psicoses, ou mesmo sendo definido como uma quarta estrutura psíquica. Portanto, se faz necessário que nos atentamos sobre estes conceitos afim de pensar o tratamento de crianças autistas, um Real que nos desafia e do qual não podemos nos recuar.

Palavras –chave: Psicanálise. Estrutura clínica. Autismo. Psicose. Sujeito

13/07/2019

14:30

MESA 17:

1) O DESEJO DO PSICANALISTA E A ÉTICA DA PSICANÁLISE

(Júlio Eduardo de Castro)

Trata-se da importância da ignorância na construção de todo saber, de fazer dela um saber estabelecido/esclarecido. A referência à douta ignorância é tida por Lacan como um antídoto epistemológico contra tentativas de totalização do saber, alertando-nos a desconfiar dos saberes que se apresentam no horizonte da cultura como totais/totalizantes, pois normalmente esses saberes desconsideram o ponto de ignorância, o furo a partir do qual se estruturam. A apresentação desse furo estrutural/estruturante [S(Ⱥ)] nos saberes é o princípio topológico ao redor do qual se ergue o Simbólico, presença essa que, por decorrência, marcará qualquer saber possível elaborado por meio dos recursos do Outro. A verdade é que a psicanálise só pode encontrar sua medida nas vias da ignorância douta, na pressuposição do furo na estrutura. Afinal, todo tratamento psicanalítico traria consigo, já desde o seu início, o marco zero do saber. ‘Escutar atentamente sem se preocupar em saber’ foi, por isso mesmo, uma recomendação freudiana feita com frequência aos psicanalistas iniciantes. Era mais favorável que o psicanalista nada soubesse/concebesse de um sujeito que estivesse por iniciar sua análise, para assim evitar a influência de preconceitos/preconcepções e mesmo de interpretações precipitadas. Afirmando que há sentido, mas não comum, Lacan nos evidencia que o objeto a é inteiramente estranho ao sentido e, por isso mesmo, consonante ao desejo do psicanalista no qual se sustenta a ética da psicanálise.

Palavras-chave: desejo do psicanalista; objeto a; ética da psicanálise

2) UNHEIMLICHE E O DESEJO DO ANALISTA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A DIREÇÃO DO TRATAMENTO EM INSTITUIÇÕES, FRENTE À EMERGÊNCIA DE (NOVAS) DEMANDAS DE CUIDADO

(Enzo Cléto Pizzimenti e Macla Ribeiro Nunes)

Tem-se no trabalho em instituições um dos importantes campos de atuação do psicanalista. Supomos que há atualmente um movimento de retrocesso no que diz respeito ao lugar dado à ética da psicanálise junto àqueles que sustentam este trabalho, seja em instituições de saúde mental, como na escuta de outras camadas da população, como crianças desabrigadas, imigrantes, refugiados etc, o que viabilizaria a construção de uma direção de tratamento que tenha como horizonte o real, e não a imposição daquilo que há “de melhor” para estes sujeitos. Frente a isso, o presente trabalho tem por objetivo propor uma discussão acerca dos destinos possíveis do tratamento em instituições, quando sustentado tendo o desejo do analista como eixo condutor do tratamento, referido à ética da psicanálise como política, seja no que diz respeito à clínica em intensão como em extensão. Lançamos mão da diferenciação proposta por Lacan entre a busca pela felicidade, norteada pela ética aristotélica, de uma ética que tem como aposta o impossível inerente ao desejo, como solução para os impasses colocados por Freud em artigos como Sobre a dinâmica da transferência (1912) e Caminhos da terapia psicanalítica (1919[1918]) que se mostram tão atuais no que diz respeito à possibilidade de se repensar a clínica e seus desvios, sempre que o unheimliche se fizer presente na transferência, exigindo que o analista siga orientado por seu desejo analisado, por conseguinte, desejo de não desejar o impossível para, ao fim e ao cabo, sustentar um lugar possível para a diferença absoluta.

Palavras-chave: Ética da Psicanálise; desejo do analista; Unheimliche; clínica em instituições

3) O ESTATUTO DO SUJEITO NA PRODUÇÃO DIALÉTICA DO OBJETO: UMA PROPOSTA DE LEITURA DO UNHEIMLICH A PARTIR DE HEGEL

(Alexandre S Barbosa)

A noção do Unheimlich é apresentada por Freud no projeto para uma psicologia científica (1895), quando analisa o confronto entre a percepção do objeto e sua representação. O objeto percebido é primariamente inscrito no registro imaginário, a partir do qual se estabelecem incidências simbólicas que modificam a primeira imagem inscrita. A imagem percebida é recuperada em um processo de síntese que introduz determinantes da memória autobiográfica do eu. Tais determinantes incidem sobre as representações da imagem, constituindo uma memória do objeto cada vez mais distante do objeto real. No centro do corpo de representações do domínio simbólico, Freud estabeleceu das Ding como domínio irrepresentável do objeto que permite a correspondência entre o objeto da percepção e da representação pelo efeito Unheimlich. Hegel, na sua principal obra, a Ciência da Lógica (1813), apresenta, na Doutrina da Essência, instrumentos dialéticos consistentes na elaboração do destino das formações simbólicas, ao propor a progressão do conceito no domínio da essência por a mediação óptica em superfícies reflexivas. Nessa obra, Hegel contempla a aglutinação de figuras imaginárias com elementos simbólicos em eventos de síntese de ambos os registros, conforme estabelecido posteriormente por Lacan no modelo óptico do estágio do espelho (1954). O fundamento da relação de objeto é determinado pelo lugar vazio de representações que constitui das Ding. Entre o objeto primariamente imaginário do eu e o vazio de das Ding se estabelece o sujeito.

Palavras chave: Unheimich, das Ding, eu, sujeito, objeto, simbólico, imaginário, dialética.

4) O ATO ANALÍTICO E A VERDADE EM ALAIN BADIOU

(Hugo Valente / Letícia Santos Cerqueira)

Os dilemas éticos, na impossibilidade de encontrar respostas no campo científico, se apresentam como questões fundamentais da clínica psicanalítica. Se a Ciência lida com o verdadeiro ou falso, na psicanálise lidamos com o que é da ordem da verdade. O ato psicanalítico pode ser pensado como um equívoco significante que funciona como um empurrão para que o sujeito se declare, a partir dos pontos de junção entre o saber e a verdade que o constitui. Sobre este ato, não há cálculo. Alain Badiou sugere chamar a interpretação psicanalítica de ‘forçamento’, termo que tenta explicar como age uma verdade, sempre inacabada, numa situação qualquer. Sobre a verdade, só temos o analisante como testemunha. Inclusive esse testemunho é condição de se afirmar uma ação qualquer do analista como tendo sido uma interpretação. O ato analítico se direciona a um alguém que tem se virado como pode, apontando para o traçado de uma verdade que, insistentemente, surpreende-nos ‘falando por ele’. Essa fala, marcada pela repetição, evidencia os significantes de sua determinação enquanto sujeito. O alguém é aquele que se cristaliza na monoliticidade do sintoma e o ato analítico o fende. Pretendemos mostrar, nesse trabalho, que no campo da ética, o brotamento de uma verdade é sempre um acontecimento que, independente do seu local de incidência, produz estranheza, no sentido freudiano do termo. Estranho efeito do ato analítico.

Palavras- chave: psicanálise e ciência; ato analítico; interpretação psicanalítica.

MESA 18

1) LALANGUE, O ESTRANHO NA LÍNGUA DE CADA UM

(Flávia Drummond Naves)

A partir de Freud e Lacan, a autora propõe a leitura da escrita de Marguerite Duras como um saber fazer aí, onde habita a estranha língua de cada sujeito. Em Lituraterra, a letra não é da mesma ordem do significante, mas a nuvem de significantes é essencial para passar à escrita. O mais de significante é o efeito poético que se faz no equívoco, nas ressonâncias das palavras e que constituem lalangue, uma língua particular que diz do surgimento do sujeito do inconsciente, uma língua que suscita o gozo da palavra. Lalangue aponta para a estranheza da língua que escapa ao universo normativo. Tecida na linguagem pulsional da mãe, ela nos leva do mais íntimo ao mais estranho da experiência com o inconsciente. Nos textos de M.Duras encontramos esse limite sustentado na escrita.

Palavras-chave: Psicanálise, literatura, estranho, lalangue.

2) ESTRANHA-ESCRITA: AS VICISSITUDES DO EFEITO DA LINGUAGEM NO PROCESSO DE PRODUÇÃO TEXTUAL A LUZ DA PSICANÁLISE

(Fernanda de Barros Campos)

A escrita é um ato que singulariza a cultura, no sentido de que só há sobrevivência na posteridade se há registros da sua existência. Assim, escrever é marcar um papel vazio, que indaga ao escritor o que ele tem de relevante a dizer. Este não-saber, mesmo quando se parte de uma pesquisa, um caso clínico, um romance, um tema que aparentemente se sabe, inibe muitos a começar o trabalho escrito, enquanto o prazer de produzir algo pode angustiar quando o fim do texto se aproxima. Esta estranha-escrita tem como objetivo elucidar a incerteza do vazio, o fascínio da produção textual e a perda do objeto com a necessidade de colocar o ponto final, a partir da teoria freudo-lacaniana (pulsão, desejo, inibição, angústia, luto), perpassando pelo desejo de saber impulsionador da produção textual em busca de compreender os obstáculos presentes no estranho de uma linguagem que não parece traduzir bem a ideia original do autor, de modo a esclarecer os processos psíquicos atuantes na arte de escrever. Palavraschave: escrita, linguagem, psicanálise

3) O EX-TRANHO EM CLARICE LISPECTOR: UMA LEITURA PSICANALÍTICA

(Regina Beatriz Silva Simões)

Propomos apresentar articulações possíveis entre Psicanálise e a arte literária apostando nesta como uma amarração viável para tratar o sintoma do sujeito. Se Freud postulou a linguagem como fundamental para a clínica e Lacan priorizou a inserção na linguagem como marca da constituição do sujeito, questionamos: Como o conto, a prosa e a poesia podem promover o discurso do inconsciente? A escrita de Clarice Lispector – pura arte – nos interessa, pois traz uma mistura de traços autobiográficos aos personagens que publica. Essa observação se torna clara em momentos substanciais de sua produção literária, compatíveis com sua existência: tédio, angústias, vazio, momentos de alegria, a inquietação com a Coisa (nomeada em letra maiúscula em sua obra), perseguida de forma enigmática em seus escritos. Reconhecida pela crítica literária como talentosa e genial, vista no convívio social como estranha, misteriosa, Clarice sai, através da escrita, em busca do preenchimento de seu ponto estrutural, que é dejeto, ponto irremediavelmente faltoso para a Psicanálise. A arte possibilita uma leitura dos modos de subjetivação que estão em jogo na clínica. Dessa maneira, embasados na vida da escritora, interrogamos: o estranho abordado por Freud pode ser lido na obra de Clarice como a Coisa inquietante que transborda e coloca o sujeito em movimento? Essa é a nossa proposta de trabalho destinada ao X Fórum Mineiro de Psicanálise.

Palavras-chave: Psicanálise, Literatura, Arte, Estranho, Sintoma.

4) CORPO ESTRANHO

(Ana H. Senra)

O artigo abordará o estranho entre a experiência corpórea frente ao real e o que faz do corpo pura alteridade.

Palavras-chave: Corpo; Estranho; Real

MESA 19:

1) UM ESTRANHO EM MIM: A DOR COMO (RE)VELADORA DO ESTRANHO

(Abraão L C S Moreira/ Adriane O Teixeira/ Alice B F Benevides/ Viviane Rocha Dias/

Daniela R G Gomes)

O presente trabalho é produto das experiências de um Projeto de Extensão realizado na Emergência Pediátrica do Hospital Geral de Vitória da Conquista – Bahia, em que são desenvolvidas atividades de contação de estórias e escuta flutuante por alunos de Psicologia da Universidade Federal da Bahia. A partir de um relato de experiência propõe-se uma análise de discursos e associações das crianças internadas, os quais apontam a dor como produtora ou indicadora de um objeto estranho no próprio corpo. O estudo tem o objetivo de analisar a relação com o estranho tal como preconizado na psicanálise na vivência hospitalar de crianças, a partir do diagnóstico biomédico e da experiência da dor física.

Palavras-Chave: Psicanálise; Hospital; Estranho.

2) A ESCUTA PSICANALÍTICA NUMA TRIBO INDÍGENA

(Mônica Martins de Godoy Fonseca)

Esse texto visa relatar uma experiência junto aos índios Krenac. Através do trabalho com alguns sonhos, palavras importantes foram elevadas à condição de “ significantes com a função de lalangue “ e puderam ser escutados. Isso possibilitou um encaminhamento para a dor e a tristeza, abrindo assim um espaço para que a morte e todo o estranhamento causado por ela pudesse se inscrever de outra forma permitindo o trabalho de luto.

Palavras-chave: lalangue, luto, sonho, significante, estranhamento, tribo indígena

3) A EX-TRANHA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: O LEMBRETE INTERMITENTE DA PERDA

(Bruno Rodrigues Leite)

O presente trabalho trata do sentimento de estranheza causado pela população em situação de rua e tem como objetivo perquirir suas origens, destinos psíquicos e implicações nas dimensões da cidade, corpos e no âmbito jurídico e social. O marco teórico utilizado é a teoria psicanalítica de Freud e a metodologia aplicada é a revisão bibliográfica com a utilização de livros e artigos. Os resultados se referem a angústia de castração como uma das origens e o ódio e agressividade como soluções do sentimento de estranheza causado pela população em situação de rua no domiciliado.

Palavras-chave: Estranho. População em situação de rua. Narcisismo.

  1. O ESTRANHO ATUAL
    (Ana Lúcia Bahia)

Neste  texto pretendo trabalhar o conceito de “unheimlich” desenvolvido por Freud e retomado por Lacan sob a perspectiva da contemporaneidade. Freud desenvolve este conceito a partir do tratado da estética e nos aponta que pouco se diz sobre o sentimento de estranheza. Algo deste último nos indica que o que retorna para o sujeito não é da ordem do recalcado e sim do real. Como pensar as situações de nosso tempo, o que vem acontecendo no mundo, com o advento da rapidez das informações e com o aumento da intolerância diante das diferenças? E a repercussão destes fatos para o sujeito? Podemos tomá-los via conceito de estranho já que o familiar é imbricado à este? Quais as saídas que se apresentam diante desta inundação de acontecimentos?

Palavras-chave: sinistro, real, contemporaneidade, gozo

MESA 20:

1) “INIMIGA” DA MORAL SEXUAL CIVILIZADA E DOS BONS CONSTUMES: UM ESTRANHO RETRATO DA MULHER MODERNA

(Elizabeth Fátima Teodoro / Wilson Camilo Chaves)

Qual a relação entre mulher e civilização? A partir dessa indagação, objetiva-se investigar o papel da mulher na sociedade vienense na transição do século XIX para o XX. Utiliza-se, como leitura base, dois textos freudianos “Moral Sexual ‘Civilizada’ e Doença Nervosa Moderna” (1908) e “O estranho” (1919). A discussão tem como cerne os apontamentos de Paul-Laurent Assoun, posto que ele formula que a mulher, sob as vestes da histeria, assume não só a posição de sintoma da civilização, mas também se apresenta como destino da mesma. Parte-se do princípio de que a histeria é efeito do conflito entre a sexualidade feminina que insiste em se fazer desejar e as imposições da moral sexual civilizada que buscam dessexualizar a mulher para que ela possa exercer as funções oriundas da maternidade e do matrimônio. Com efeito, a histérica é aquela mulher que, ao não se conformar aos papéis de mãe e esposa impostos pela sociedade burguesa, expressa no próprio corpo o mal-estar fundante do processo civilizatório. De modo a evidenciar que para além de sua problemática pessoal, ela aponta questões que circulam como representação de um coletivo.

Palavras chave: histeria; moral sexual civilizada; mulher; sexualidade feminina.

2) O CALDEIRÃO DOS AFETOS

(Suzana Braga)

Este trabalho é uma reflexão sobre os afetos e a situação política brasileira na atualidade. O texto de base para a reflexão é Psicologia dos grupos e análise do eu assim como as ponderações de Christian Dunker e Vladimir Safatle sobre o tema.

3) O INQUIETANTE DA SOCIEDADE DO CANSAÇO

(Bruno Curcino Hanke)

O sentimento de cansaço perpassa relações afetivas e de trabalho. Relatos apontam uma mudança na forma como o cansaço se produz e quais seus efeitos sociais. De maneira semelhante ao manejo social com a tristeza, entendemos que ocorre o rechaço do cansaço. Segundo o filósofo Byung-Chul Han (2017), um dos grandes fatores de sofrimento é a maneira como nos impomos a necessidade de conquistas. Queremos ser os mais eficientes. O outro, o estranho, era colocado à distância para obtermos bem-estar, hoje nossa ação regula a nós mesmos. Ou seja, o mesmo estaria em guerra consigo. Assim, o trabalho objetiva discutir, junto a uma leitura de “O estranho” (Freud, 1919) e de “O mal-estar na cultura” (Freud, 1930), os meios como o mal-estar torna o sentimento de cansaço tanto uma consequência de nossa luta contra o desamparo quanto como uma inquietante estranheza para uma vida dita feliz e saudável.

Palavras-chave: psicanálise, sociedade do cansaço, desamparo, mal-estar, estranho.

TRABALHOS CLASSIFICADOS NA SESSÃO INTERATIVA PÔSTER

AUTORIA

TÍTULO

1

Alessandra Cardoso Marques

João Carlos Ferreira Franceschi

Das Unheimliche – o sintoma da criança e o sintoma na criança

2

Arthur Teixeira Pereira /

Letícia Costa Leopoldino

O Eu é um Outro: reflexões sobre o Unheimliche e o Inconsciente como política

3

Carol Rabelo Guimarães 

Carla Poliana Alves Soares

Van Gogh: Pintando a ambiguidade

4

Claudinéa de Fátima A. de Abreu Souza  /

Ismael Pereira de Siqueira

Eu não quero que meus filhos passem pelo que eu passei”: O Desejo Materno e sua Relação com o Sucesso Escolar

5

Fabiana Cristina Teixeira /

Karina de Araújo Ferreira /

Carolina Lopes Santos

As Macabéas do século XXI: novas atualizações das palavras destrutivas em relacionamentos tóxicos.

6

Fabiane Beatriz dos Santos /

 Isabella Caetano Alves /

Karine Aparecida Viana /

Rogéria Araújo Gontijo Guimarães

Adolescência e família: relações familiarmente estranhas

7

Geisilane Nogueira da Silva

O estranho no CAPS: considerações a partir do relato de um AT

8

GEP: Grupo de Estudos em Psicanálise – Itaúna (MG)

GEP: da estranheza do coletivo a possibilidade da interlocução

9

Giovana de Sousa Gaipo /

Mireny Barbosa G. Fonseca /

Cláudia Ap. de Oliveira Leite

Saúde Mental e políticas públicas: O sofrimento psíquico prematuro em

adolescentes e jovens adultos

10

Gizeli Cristina Alves Ricardo

O discurso de ódio no Brasil: uma análise das eleições presidenciais de 2018.

11

Jacqueline Danielle Pereira /

Daniela Dutra Viola

Impasses para uma prática orientada pela Psicanálise em uma instituição

12

Jaqueline Cristina Azevedo Araújo  /

Josimeire Conceição Faria Gaipo /

Matheus Augusto Pires de Sousa/

Leonel Cardoso dos Santos

Silicone, Repetição e Subversão: Notas sobre o corpo como texto na prostituição de mulheres trans em Divinópolis

13

Jaqueline Duque Kreutzfeld Toledo /

Bruno Feital Barbosa Motta /

Jefté Moraes Souza

O estranho na rua: o duplo dos corpos não encarcerados.

14

Karina de Araújo Ferreira /

 Luisa Mijolary Souza /

 Renata Viana Gomide

Incidências do discurso analítico no serviço de saúde mental

15

Leandro José Maria Silva

Por que o psíquico humano tende à sua destruição? Luis da Silva no romance “Angústia” de Graciliano Ramos: um estudo do conceito freudiano do sentimento inconsciente de culpa.

16

Luísa Aparecida Costa /

Roberto Lopes Mendonça /

Mateus Martins Ferreira /

Carlos Eduardo Rodrigues /

Daniela Paula do Couto/

Mardem Leandro Silva

Manejo da transferência e tratamento psicanalítico: a posição do analista em questão

17

Maria Isadora Cruz Fonseca

Mardem Leandro Silva

Elizabeth Fátima Teodoro

A estranha fantasia do Outro

18

Mônica de Aguiar Carvalho Destefani

O mal-estar docente na educação contemporânea

19

Naira Ludmila Gonçalves

O refugiado: um estranho inclassificável

20

Rodrigo Martins /

Magali Milene Silva

O Conceito de Masculino em Freud e sua relação com a escolha da neurose

21

Suzane Ramos Maritan/

Janilton Gabriel de Souza /

Roberto Lopes Mendonça

A constituição do sujeito de Freud a Lacan

22

Tatiane Regina Assis Sousa/

Magali Milene da Silva

Das fronteiras do divã: a política da direção do tratamento e a nova modalidade de atendimento à distância

23

Thais Aparecida Santos

A importância da relação mãe-filho na constituição subjetiva da criança com deficiência

24

Thayane Bastos Moura Dias /

 Laura Resende Moreira.

Um estranho no CRAS: A psicanálise entre fronteiras

25

Vanessa Oliveira Silva Simoni /

Magali Milene Silva

O pai em Freud: Uma visita ao caso do pequeno Hans

26

Wericson Miguel Martins

Dos (des)caminhos entre Autismo e Subjetividade à extimidade da sexualidade

27

Cláudia Ferreira Melo Rodrigues/

Lorena dos Reis Gonçalves/

Ricardo Luiz Alves Pimenta

Transferência: Uma possibilidade de reinvenção diante a estranheza da clínica psicanalítica.

Resumo dos Trabalhos – Sessão Interativa Pôster

  1. Das Unheimliche – o sintoma da criança e o sintoma na criança (Alessandra Cardoso Marques / João Carlos Ferreira Franceschi)

Com a busca desesperada e desenfreada dos pais por respostas frente ao adoecimento de seus filhos e o crescente número de crianças chegando aos consultórios com diagnósticos como Autismo, Transtorno Opositor Desafiador, Transtorno de Conduta, Transtorno de Déficit Atenção/Hiperatividade, entre outros, faz-se necessário repensar o lugar ocupado por cada familiar nessa conjuntura, assim como avaliar de que forma os sintomas observados em crianças na clínica podem estar associadas às respostas dos filhos diante da demanda dos pais. O presente trabalho pretende, portanto, promover reflexões acerca da clínica psicanalítica, pautando-se nas experiências vivenciadas no Projeto Acompanhamento Pais-Crianças, do NEPE. Sabemos que mesmo antes do nascimento a criança já está inscrita num discurso e traz consigo o desejo de seus pais, ou seja, mesmo antes de ser concebida, já há um lugar preparado para ela na família. Contudo, como somos sujeitos históricos, não podemos ignorar que os pais também estão inscritos num discurso e ocupam um lugar no imaginário social, ou seja, para compreendermos o sintoma na criança e da criança, antes de mais nada é preciso compreender quem são os pais de hoje. Vorcaro e Ferreira (2014) ressaltam que no contexto atual, as funções parentais estão perdendo terreno e a autoridade científica passa a preponderar sobre qualquer outro poder, ressignificando a criança que deixa de ser filha(o) de seus pais para serem filhos de pais anônimos, gerando grandes prejuízos à criança. Quando o desejo do Outro não é endereçado e essa criança – desejo anônimo – pode haver interferências no desenvolvimento infantil, manifestando-se por meio de sintomas, verificados na clínica, tais como: atraso na fala, dificuldades de interação, prejuízos na autonomia, entre outros. Diante do “Unheimliche” (1919), o estranho familiar, que é o recalcamento de conteúdos inconsciente do casal, o saber científico ocupa o lugar no desejo dos pais, que procuram justificar os comportamentos dos filhos com uma série de diagnósticos. Neste sentido, nomear e classificar torna-se preponderante, já que alivia a angustia identitária gerada pelo estranhamento frente ao adoecimento de seus filhos. Neste cenário, muitos pais passam a ocupar o lugar de espectadores, na crença de que os especialistas detêm todo o saber e os filhos, por sua vez, passam a ter o nome da doença que os classificam, ou podemos dizer, reclassificam, já que estamos às vésperas da CID-11. Podemos dizer também que o sintoma na criança pode aparecer, por vezes, na falha da organização psíquica do sujeito. Assim, como resposta ao que há de sintomático na dinâmica familiar, a criança fica presa ao gozo do Outro e impedida de construir sua própria fantasia. A criança, absorve as demandas inconscientes da família marcadas pelo não dito Manoni (1989) e respondem ao inconsciente de seus pais, Kamers (2015). O adoecimento do filho, embora pareça estranho aos pais, é algo bem familiar, pois denuncia as próprias questões do casal. Assim, há uma utilização perversa do adoecimento da criança por parte dos adultos para tamponar seus problemas. No entanto, cabe ressaltar que mesmo que haja a demanda do Outro sobre a criança, ela poderá responder a isso ocupando o lugar de sujeito ou o de objeto. Enquanto posição de sujeito, a criança consegue responder de modo próprio às demandas do Outro e, assim, os sintomas podem advir do impasse na relação com esse Outro, pois a sua condição subjetiva está em risco de vir a ser. Já enquanto posição de objeto, a criança compõe com o agente do Outro ao qual está ligada uma relação de simbiose, ou então recusa a estrada no campo do Outro enquanto alteridade, ficando à margem da linguagem (Kamers. 2015). Podemos observar os dois lados da questão, isto é, os filhos submetidos ao desejo do Outro como objeto ou sujeito, quanto o seu avesso, ou seja, o lugar ocupado pelos pais, nessa relação. Só assim poderemos discorrer sobre o trabalho e compreender o papel do estranho na relação pais e filhos e os sintomas da criança e na criança. 

Palavras-chave: estranho, criança, sujeito, pais, filhos, sintoma, diagnóstico, clínica psicanalítica. 

  1. O Eu é um Outro: reflexões sobre o Unheimliche e o Inconsciente como política 

(Arthur Teixeira Pereira / Letícia Costa Leopoldino)

Freud, em Das Unheimliche (1919), verifica que o estranho diz respeito a uma categoria inquietante, mas que remonta ao que é mais familiar. Ao relacionar o estranho à dimensão do recalcado que retorna para o sujeito, constata-se aquilo que Freud postulara ao afirmar que o Eu (Ich) não é senhor em sua própria casa. Em outras palavras, somos estranhos a nós mesmos. Lacan, por sua vez, afirma que o Inconsciente (Unbewusst) é o discurso do Outro (Autre), enquanto alteridade absoluta, representante da linguagem. Ademais, no seminário intitulado La logique du fantasme, estabelece que o Inconsciente é a política, donde se desdobra que este estaria correlacionado à formação do laço social, construído na relação com o Outro. A partir destes elementos, o presente trabalho tem como objetivo apontar e problematizar a relação entre o Unheimliche e a assertiva lacaniana do Inconsciente como política, por meio de revisão bibliográfica sistemática. Efetuou-se uma seleção seguida de articulação de textos e artigos cujo escopo tratasse de tal problemática. Política, alteridade e Inconsciente são termos que se articulam, na medida em que no contato com a diferença emerge o estranho, o “in-familiar”, que aponta o que há de mais familiar para um sujeito, provocando a angústia verificada por Freud. Portanto, pode-se compreender a referida proposição lacaniana no que tange à diferença, ou seja, ao sujeito cindido, não idêntico a si mesmo. 

Palavras-chave: Estranho; Política; Inconsciente; Alteridade. 

  1. Van Gogh: Pintando a ambiguidade

(Carol Rabelo Guimarães / Carla Poliana Alves Soares)

Nosso pôster tem como tema Psicanálise e Arte. Como foco principal, escolhemos um personagem singular em suas obras e aparentemente perturbado por questões subjetivas, sendo descrito em algumas biografias como portador de Transtorno Bipolar: Vincent Van Gogh. Em sua trajetória, não fica claro o ponto exato de sua história que as questões psicopatológicas iniciaram. Levantamos questionamentos em nossa pesquisa sobre a relação entre o adoecimento psíquico de Van Gogh e sua criatividade e genialidade. Van Gogh apresentava episódios de vivência depressiva e episódios eufóricos (mania). Sabemos que a psicanálise não confere à depressão o status de um diagnóstico, mas de uma consequência da posição do sujeito, que pode ser encontrado em qualquer estrutura clínica, enquanto relaciona a melancolia a um tipo clínico da psicose. Em uma análise de biografias e documentários, buscamos compreender como Van Gogh mescla sofrimento e genialidade. Nossas questões procuram compreender se ele buscou em sua pintura uma espécie de ancoragem emocional para conseguir lidar com suas crises ou se em momentos de apaziguamento é que emergia sua produção artística. A arte de Van Gogh reflete ainda sua inibição, o difícil laço com os outros, sua criação solitária, seus devaneios e autorretratos.

  1. “Eu não quero que meus filhos passem pelo que eu passei”: O Desejo Materno e sua Relação com o Sucesso Escolar

(Claudinéa de Fátima Aguiar de Abreu Souza / Ismael Pereira de Siqueira)

Este estudo é o recorte de uma pesquisa de Iniciação Científica sobre Fracasso e Sucesso Escolar. A pesquisa se baseou no estudo de caso de uma menina,em situação de vulnerabilidade social e matriculada no 5º ano do ensino fundamental, numa escola pública. A importância que a mãe da menina atribui à alta escolaridade, somada aos esforços para ajudar a filha, foram fatores fundamentais para que a menina superasse as dificuldades de aprendizagem, encontradas na sua vida escolar. Para isso, partimos da reflexão de Freud,em: “Para Introduzir o Narcisismo” [1914] de que as atitudes de afeto e cuidado dos pais são projeções de seu narcisismo no narcisismo dos filhos. Tais projeções são fundamentais para que a criança possa existir enquanto sujeito e subsistir, pois é a partir delas que a criança terá um lugar no desejo inconsciente dos pais.Paradoxalmente, para que a criança possa advir como sujeito desejante, deve se libertar dessas projeções, que para Winnicott, no texto: “Sobre Objetos e Fenômenos Transicionais”, envolve a criação de um espaço transicional entre a mãe a criança. O papel da mãe é garantir a sobrevivência e a diferença, para que a criança possa constituir o seu eu. Essas funções, aliadas ao cuidado materno e à apresentação dos objetos à criança, designam o que Winnicott denominou: “Mãe Suficientemente Boa” e tais funções, parecem ter vital importância para garantir o sucesso escolar da menina, cuja trajetória escolar será analisada brevemente neste trabalho, à luz do conceito freudiano de Narcisismo e das elaborações de Winnicott sobre o Self e sua relação com a Transicionalidade.

  1. As Macabéas do século XXI: novas atualizações das palavras destrutivas em relacionamentos tóxicos

(Fabiana Cristina Teixeira / Karina de Araújo Ferreira / Carolina Lopes Santos)

O presente trabalho emergiu da inquietude apresentada nos estudos de casos de mulheres atendidas pelo grupo ELAS: Estudos psicanalíticos, Literatura feminina e Atendimentos Sociais, marcadas por relacionamentos que se assemelham aos de Macabéa,  personagem de Clarice Lispector em “A hora da estrela” (1998), sobretudo pela passividade diante das palavras que as denigrem, causando impactos em suas imagens e produzindo mal-estar. Partindo do discurso proferido pela autora numa entrevista concedida em 1977, estamos às voltas com uma “inocência pisada” e uma “miséria anônima”, que nos casos em questão todas as palavras difamatórias parecem ser suportadas e incorporadas no repertório que em alguma medida é “desculpado” por tais mulheres. Do ponto de vista de uma posição de passividade intensa diante do Outro, percebe-se que sua abnegação ao desejo se presentifica nos casos clínicos assistidos pelo grupo ELAS, cujo contextos envolvidos por agressividade não bastaram para que a posição dessas mulheres diante do Outro fosse de menos desamparo, apresentando convictas na posição de objeto de gozo do Outro, sem quaisquer questionamentos.  Conforme apontado pelas críticas, a história de Macabéa narra “uma pobreza que não é pobre”, mas lida com uma personagem passiva e impotente diante do Outro, entrando  em conformidade com as mulheres atendidas pelo grupo ELAS, que  se direcionam à promessas feitas por seus parceiros amorosos, possibilitando engajamento em relacionamentos tóxicos.

Palavras–chave: estranho-feminino – relacionamentos tóxicos

  1. Adolescência e família: relações familiarmente estranhas

(Fabiane Beatriz dos Santos / Isabella Caetano Alves / Karine Aparecida Viana /

Rogéria A Gontijo Guimarães)

Este trabalho tem por objetivo abordar o período da adolescência e seu processo de identificação, enfatizando as inquietudes e oscilações desta fase perante as novas configurações familiares. A adolescência é caracterizada por uma série de inseguranças e conflitos internos, em que o adolescente se despede de sua imagem infantil, mas ainda não é visto na posição de adulto perante a sociedade. A família neste período tem o papel fundamental, na constituição do sujeito, influenciando a composição da personalidade, além do comportamento individual. Porém em nossa contemporaneidade, a configuração familiar se apresenta com uma diversidade de modelos que provocam um estranhamento entre o eu ideal e o ideal do eu. O adolescente, diante das exigências pulsionais, busca abdicar da onipotência infantil para construir um ideal próprio e, muitas vezes, o seu reconhecimento como sujeito de desejo é determinado pelo afastamento dos ideais paternos. Neste sentido, ele se posiciona como um estranho – familiar neste contexto, o que causa muitos conflitos e sintomas na família. Além disso, mediante às imposições da sociedade moderna, vivencia uma série de sentimentos, oscilando entre o afeto infantil vivido e o desejo de ser reconhecido pelo Outro. Buscaremos, portanto, destacar esses elementos à luz do estudo freudiano sobre esta hiância entre o familiar e o inquietante no adolescente.

Palavras-Chave: adolescência, família, estranho.

  1. O estranho no CAPS: considerações a partir do relato de um AT

(Geisilane Nogueira da Silva)

O presente trabalho visa apresentar considerações sobre o que Freud chamou de unheimlich, traduzido como “o estranho”, no âmbito institucional. É apresentado um fragmento de caso clínico de um usuário-funcionário do CAPS II de Itaúna-MG que apresenta deficiência intelectual (F.71 conforme a CID 10) que é atendido através de Acompanhamento Terapêutico. Tal prática iniciou-se em agosto de 2017 através de um projeto de extensão da UEMG-Divinópolis intitulado “O Acompanhamento Terapêutico na rede de Atenção Psicossocial de Itaúna: ampliando as estratégias de inserção social, cidadania e protagonismo dos usuários”. O Acompanhamento Terapêutico é uma prática clínica de território, realizada em diferentes espaços da cidade por onde o sujeito circula, sendo esse dinamismo o propiciador da dimensão terapêutica. Na construção desse caminho, surgiram questões relevantes sobre o lugar ocupado pelo sujeito acompanhado, não reconhecido como parte da equipe e negligenciado na assistência de saúde, no CAPS, sendo possível perceber o sentimento de estranhamento expresso em olhares e verbalizações direcionadas ao acompanhado e acompanhante. Entende-se o estranho como um sentimento que oculta algo que é familiar. Como aponta Freud, a insanidade causa um sentimento de estranhamento no espectador, pois ele tem vaga consciência da ação de forças ocultas em seu próprio ser.

Palavras-chave: Acompanhamento terapêutico, estranho, território.

  1. Grupo de Estudos em Psicanálise – Itaúna/MG: da estranheza do coletivo à possibilidade da interlocução

(Carla Gomes Ferreira / Cezimara Karla Simões de Souza / Júlia Roberta de Oliveira Carvalho Caetano /  Marcelo Gonçalves Campos / Ricardo Luiz Alves Pimenta )

 

O presente trabalho discute a possibilidade de estudar a teoria e a prática psicanalítica por meio da modalidade grupo de estudos. Pretende-se narrar a experiência do Grupo de Estudos em Psicanálise (GEP), que acontece desde janeiro de 2013 na cidade de Itaúna/MG. Este traz em seu objetivo promover um espaço de interlocução da teoria e da prática psicanalítica. Estudar carrega o sinônimo de pesquisar, averiguar, instruir, compreender, dentre outros. Já a palavra grupo, na perspectiva freudiana, refere-se às características significativas capaz de realizar alterações psíquicas, emocionais e sociais no indivíduo, por meio da estranha força do coletivo. Quais as implicações ao se estudar em um grupo de orientação psicanalítica, no interior de Minas Gerais? Quais os possíveis efeitos no singular do psicanalista e em seu fazer psicossocial? Não é de garantia que se trata, sinaliza-se este espaço como sendo uma das possíveis saídas para sustentar a solidão da clínica psicanalítica por meio da interlocução com o coletivo. Este trabalho afirma a possibilidade de estudo em uma modalidade diferente da escola, instituição, associação, ou seja, em grupo; onde há produção e efeitos no interior do próprio grupo e de seu entorno. Constata-se também, aprimoramento de temas específicos, implicações teórico-clínicas e consequências subjetivas. Afinal, Freud em seu horizonte advertiu sobre a importância do estudo permanente, caracterizando-o como uma das escoras do psicanalista. 

 Palavras-chave: Grupo; Estudo; Psicanálise; Freud; Itaúna/MG. 

  1. Saúde Mental e políticas públicas: O sofrimento psíquico prematuro em adolescentes e jovens adultos

(Giovana de Sousa Gaipo / Mireny Barbosa G. Fonseca / Cláudia A. de Oliveira Leite)

 

O sofrimento psíquico prematuro de adolescentes traduz, implicitamente, um Estado doente e segregatório. Dessa maneira, podemos considerar que as vivências de inquietação na adolescência se associam e denunciam o caos das referências simbólicas vivido pela nossa sociedade. Cada vez mais, constatamos que os jovens são isolados e julgados por demonstrarem suas faltas. Suas condutas são prontamente diagnosticadas como transtornos (automutilação, tentativa de autoextermínio, TDAH e autismo). Entretanto, tais nomeações denunciam algo que deveria permanecer oculto e do qual os adolescentes, os estranhos, não dão conta e revelam. Diagnósticos, medicalização, sintomatologia e capitalismo andam lado a lado para a produção de alienados. Nesse contexto social, o adolescente surge como um representante privilegiado do “Estranho” (Unheimlich) uma vez que o adoecimento psíquico na adolescência denuncia a precariedade das políticas públicas que não incluem esses jovens na rede de assistência em saúde mental. Partimos da hipótese de que o déficit de auxilio e escuta desses adolescentes favorece a “desordem social”, uma vez que todo mal-estar em nossa cultura é considerado uma doença. Por essa perspectiva, buscamos o referencial psicanalítico, nesse presente estudo, para analisar os elementos por trás das atitudes massificadas dos adolescentes de uma escola de uma cidade do interior de Minas Gerais, tensionando a visão do micro para o macro desse processo. 

Palavras-chave: Saúde mental; políticas públicas; adolescentes; psicanálise; estranho sofrimento psíquico.

  1. O discurso de ódio no Brasil: uma análise das eleições presidenciais de 2018

(Gizeli Cristina Alves Ricardo)

 

Discursos políticos durante as eleições de 2018 trouxeram à tona um desejo até então reprimido de luta pela liberdade de alguns grupos. Nota-se uma mecha de descontentamento de algumas pessoas em relação a direitos e conquista identitárias. O ódio se torna o principal afeto disseminado entre a mídia em relação às ideologias atuais. O mal-estar gerado por meio do ódio separa nações e promove disputas civis; a retórica do ódio impõe humilhações aos derrotados e ressentimento social. Objetivo: Em decorrência da relevância de tal temática, pretende-se discutir sobre o discurso de ódio no Brasil, tendo-se como pano de fundo as eleições presidenciais de 2018, bem como a crescente onda pelo desejo ao retrocesso propagado por camadas da população em geral. Método: De forma a cumprir esse objetivo, emprega-se uma pesquisa bibliográfica complementada com dados midiáticos recentes. A Liberdade de Expressão sofre restrições importantes ao seu poder de autodeterminação, repudiando o discurso do ódio. Considerações finais: Percebe-se que diante da massificação da população, criam-se sujeitos incapazes de fazer julgamentos morais e assim, aceitam ordens superiores sem maiores questionamentos. Eis a banalização do mal e os questionamentos sobre o que realmente se quer enquanto cidadão.

Palavras-chave: Discurso de ódio. Política. Guerra Civil. Liberdade de Expressão.

  1. Impasses para uma prática orientada pela Psicanálise em uma instituição

(Jacqueline Danielle Pereira / Daniela Dutra Viola)

 

Este resumo decorre de uma experiência de estágio em Equoterapia. A estagiária era orientada a partir da Psicanálise. Seu trabalho foi pautado na prática entre vários, que se refere a uma aplicação da Psicanálise para muitos em contextos institucionais, especialmente aqueles que acolhem sofrimentos psicóticos, pois seu pilar é o esvaziamento do gozo do Outro para torná-lo menos invasivo. Há quatro sustentáculos preconizados para tal: desespecialização, formação, invenção e transmissão. Tendo-os em vista, organiza-se melhor os impasses ao desenvolvimento do trabalho vivenciados naquela instituição. Primeiramente, constatou-se entre os profissionais uma visão biológica acerca dos casos que eram atendidos, baseada em um discurso psiquiátrico; além de uma atuação pedagógica, ao instruir alguns comportamentos às crianças. Essas condições se opunham aos eixos desespecialização, invenção e formação. Outra dificuldade era a falta de reuniões da equipe, impedindo diretamente a aplicação do eixo transmissão. Ademais, a desvalorização da figura do psicólogo como parte da equipe multiprofissional e o despreparo para oferecer a equoterapia eram empecilhos para além daqueles princípios, pois esbarravam-se nos preceitos éticos de um trabalho da Psicologia orientado pela Psicanálise. Portanto, pretende-se aqui alertar estagiários e trabalhadores que virão e que tenham desejo pela Psicanálise; e ainda, ganhar abertura para essa orientação entre as instituições. 

Palavras-chave: Prática entre vários; Instituição; Psicanálise.

  1. Silicone, Repetição e Subversão: Notas sobre o corpo como texto na prostituição de mulheres trans em Divinópolis

(Jaqueline Cristina Azevedo Araújo  / Josimeire Conceição Faria Gaipo / Matheus Augusto Pires de Sousa/ Leonel Cardoso dos Santos)

 

Este trabalho objetiva apresentar a discussão acerca da construção do corpo como um ato discursivo não finalizado que entrelaça política e desejo. Para tanto partimos de uma etnografia realizada com travestis e mulheres trans que estão no trabalho da prostituição na cidade de Divinópolis, MG. Nos interessa discutir dois vetores de produção do corpo. O primeiro deles marcado por uma necessidade constante de construção de uma corporalidade em direção a uma feminilidade heteronormativa já posta socialmente. Entra em curso uma reiteração de performatividades em busca de um feminino nunca finalizado, uma vez que as intervenções corporais nunca parecem ser suficientes. Nossa pergunta nesse instante passa a ser: como a psicanálise pode nos ajudar a compreender tal vetor de construção do corpo que se perfaz por meio da repetição de um feminino que parece nunca se alcançar e por isso se está sempre em busca? Outro vetor que nos interessa  discutir se origina na mesma construção do corpo anteriormente explicitada, porém em seu aspecto de produção de produção como apontam Giles Deleuze e Félix Guattari. O corpo como conexão de textos múltiplos com a potência de deslocamento do desejo e construção do gênero na cidade. A rua ou a ‘pista’ para evocar um termo êmico podem ser lidas como um evento de gênero que possibilita as intervenções corporais como forma de lidar com a demanda da transexualidade e seus efeitos no e com o corpo.

Palavras-Chave: Corpo; Travestilidades; Transexualidades; Esquizoanálise, Reiteração/subversão.

  1. O estranho na rua: o duplo dos corpos não encarcerados

(Jaqueline Duque Kreutzfeld Toledo /  Bruno Feital Barbosa Motta / Jefté Moraes Souza)

 

Freud em “O inquietante”, diz da ambiguidade da palavra heimlich, a qual desenvolve seu significado até coincidir com seu oposto, unheimlich.  Este não é apenas o não familiar, mas o que deveria ficar oculto, mas apareceu.O objetivo deste artigo é relacionar o conceito freudiano sobre Unheimlich, com os corpos não encarcerados que insistem permanecer nos espaços urbanos. Para tal, foi realizada uma revisão bibliográfica utilizando textos de orientação psicanalítica. O horror supostamente escondido, através dos corpos, não trata do que está no outro, mas o que o outro traz como imagem do horror. Imagem que cada qual não quer, ou não pode se deparar, e num sentido ambíguo, o retira de diante dos olhos encarcerando. Se encarcero não vejo, se não vejo, não existe, ou faz acreditar na inexistência. Porém, essa inexistência opera numa espécie de suspensão que a qualquer hora faz retorno. Assim, busca-se perceber este retorno no Urbano, espaço de encontro com a imagem do horror num tipo específico de transgressão. Não trata-se do transgressor no sentido jurídico, pois este sabemos nomeá-lo e tratá-lo. Trata-se aqui do pedinte, este corpo estranho, que precisa ser encarcerado para nosso conforto, mas que não nos autoriza a fazê-lo,  permanece desafiando o cidadão de bem na sua alteridade. 

Palavras-Chave: Psicanálise. Corpos não encarcerados. Unheimlich.

  1. Incidências do discurso analítico no serviço de saúde mental

(Karina de Araújo Ferreira / Luisa Mijolary Souza / Renata Viana Gomide)

O presente trabalho foi elaborado a partir da experiência em estágio curricular obrigatório do curso de psicologia desenvolvido no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II), localizado em uma cidade do interior de Minas Gerais. A partir disso, será relatado a construção de um caso clínico, baseado nos fundamentos teóricos do psicanalista italiano Carlos Viganó, referência internacional no tema, de uma mulher de 29 anos, que atenderá pelo nome fictício de Ana Laura, que apresenta sintomas relacionados à anorexia nervosa, abarcando uma concessão a um gozo mortífero, que bordeja a autodestruição. Será considerando um possível diagnóstico de melancolia associado a importantes sintomas alimentares. Esta experiência passou-se no período do segundo semestre de 2018, com visitas semanais ao CAPS. A possibilidade de realizar o estágio supervisionado na referida instituição, através do acompanhamento terapêutico com Ana Laura, possibilitou a aproximação desse mundo de “corpos frágeis” e muitas vezes amedrontados, em que o corpo mostra-se como palco em que são representadas as angústias sofridas que não haviam tido a oportunidade de serem expressadas.

Palavras–chave: caso clínico; anorexia; saúde mental; psicanálise.

  1. Por que o psíquico humano tende à sua destruição? Luis da Silva no romance “Angústia” de Graciliano Ramos: um estudo do conceito freudiano do sentimento inconsciente de culpa.

(Leandro José Maria Silva)

Luis da Silva é o protagonista da obra “Angústia”, de Graciliano Ramos. No romance, a sua condição de vida é extremamente pobre. Isso interfere em sua autoestima. Considera-se um homem bruto, ignorante, invisível e sem importância à sociedade; nas suas palavras, “um Luis da Silva qualquer”. A jovem Marina, sua nova vizinha, aparece, e Luis apaixona-se por ela. Pede-a em casamento, começa a investir suas poucas economias para o enxoval, porém ela abandona-o e se enamora por um burguês da cidade chamado Julião Tavares. Este engravida-a e depois a abandona. Luis, com seu orgulho ferido, vinga-se de Julião, enforcando-o em uma árvore. O que se passa logo depois é o sentimento de culpa por assassinar o seu oponente, ter cometido o crime. Luis segue em estado de angústia, se autorrecriminando, com medo de, a qualquer momento, ser capturado pelas autoridades. Ele se isola e permanece assim até o seu definhamento. O propósito desta pesquisa é, analisar psicologicamente a personagem Luis da Silva na obra em questão explicitando o sentimento de culpa presente em sua psique, bem como analisar as nuances desse conceito que é tão recorrente na obra de Freud. Para justificar a culpabilidade em Freud, faremos um estudo da segunda tópica, mais propriamente o supereu, do assassinato do pai primevo pelos filhos em Totem e Tabu, do fenômeno dos criminosos que carregam o sentimento de culpa antes mesmo de cometer seus crimes e da análise do escritor russo Dostoiévski, feita por Freud.

Palavras-chave: Psicanálise, sentimento de culpa, angústia, Graciliano Ramos. 

  1. Manejo da transferência e tratamento psicanalítico: a posição do analista em questão (Luísa Aparecida Costa / Roberto Lopes Mendonça / Mateus Martins Ferreira / Carlos Eduardo Rodrigues / Daniela Paula do Couto/ Mardem Leandro Silva)

Este trabalho é fruto das atuais leituras do conceito de transferência proposto por Freud, tendo como textos principais A dinâmica da transferência (1912/1996) e Observações sobre o amor transferencial (1915[1914]/1996). Ambos os textos se encontram na série dos Artigos sobre técnica, sendo um primeiro um artigo teórico, e o segundo mais técnico. A pesquisa tem como objetivo esmiuçar as ideias de Freud e realizar um estudo detalhado de seus textos, o que nos permite clarear conceitos e compreender de forma profunda e mais próxima o que Freud propunha. Toma-se como método a leitura comparada de diversas edições do texto freudiano, em vários idiomas, incluindo o original alemão. Tendo tais pontos como foco das leituras, busca-se construir uma base fundamentada acerca do manejo da transferência como manejo da posição do analista, um dos pontos centrais da pesquisa atual. No primeiro texto, mais teórico, temos a proposta da transferência dividida em duas vertentes – positiva e negativa; e a primeira ainda dividida em outras duas – amistosa (ou afetuosa) e erótica. Somente a parte amistosa da transferência pode ser tomada pelo analista como móbil da análise. O segundo texto vem em auxílio apresentando formas de lidar com a transferência enquanto resistência (demais formas que não a amistosa) e é neste ponto que sugerimos a leitura do manejo da transferência como manejo da posição do analista.

Palavras-chave: Freud, transferência, manejo, clínica. 

 

  1. A estranha fantasia do Outro (Maria Isadora Cruz Fonseca / Mardem Leandro Silva / Elizabeth Fátima Teodoro)

 Ao reconhecer que a ficção seria condição de formulação da realidade de sua neurótica, Freud admite uma estranha noção de narrativa ao dizer que sua neurótica mente e, com isso, o psicanalista nos apresenta um conceito revolucionário de verdade. Trata-se do que Freud passa a denominar de próton pseudos, de uma verdade comprometida com o desejo e, portanto, atramada às fantasias do sujeito. Entretanto, esta admissão não figura como obstrução de seu empreendimento teórico, já que permite modificar sua teoria do trauma e com isso reconhecer os elementos de ficção daquilo que de fato traumatizaria o sujeito. Nesse sentido, Freud nos apresenta a fantasia como o núcleo fundamental de nossa realidade psíquica, como a mais íntima representação de nossos desejos recalcados. Mas como conciliar esta noção de fantasia com o fato estrutural de que esta operação psíquica implicaria em se alienar ao desejo do Outro? Como situar a resposta singular do sujeito com o fato estranho da outridade de seu desejo, ou seja, com o fato de que seu desejo admitiria ser descrito como o desejo do Outro? Pretendemos introduzir algumas respostas a estas questões à luz do texto freudiano “O estranho” do qual sustentamos uma articulação capaz de tornar admissível a extração de consequências da dimensão antitética de nossa posição desejante, por colocar em relevo o descompasso entre o familiar – núcleo irredutível da subjetividade do sujeito, e o estranho – a alteridade absoluta da estranha fantasia do Outro. 

Palavras-chave: desejo; fantasia; Freud; neurótica; Unheimliche. 

  1. O mal-estar docente na educação contemporânea

(Mônica de Aguiar Carvalho Destefani)

 

Este trabalho aborda a ocorrência do “mal-estar docente na Educação Contemporânea”. Tal abordagem se justifica devido ao fato de ser um assunto que vem suscitando inúmeras reflexões e estudos de diversas áreas inclusive a da educação e da psicanálise, sendo que esse mal-estar do docente traz consigo desinteresse, apatia, desmotivação e seus sintomas psicossomáticos – angústia, fobias, crise de pânico. O objetivo é a princípio conhecer mais sobre as várias questões de queixas que o docente traz consigo o acometendo pelo mal-estar ao se deparar com os novos modelos de medição do conhecimento e de seus educandos. Queixas que também esbarram inclusive nas próprias questões do sujeito docente. O referencial teórico-conceitual usado se baseia na literatura psicanalítica de Freud, Marcelo Ricardo Pereira, Maria Cristina Machado Kupfer, dentre outros autores contemporâneos. A preocupação não tem sido somente a formação do docente como mediador do conhecimento, mas o de preparar para que ele esteja apto a ensinar lidando com situações adversas em sala de aula, as quais pode lhe trazer angústia, ansiedade, desmotivação, alunos desautorizando o professor dentre várias questões que são derivadas do mal-estar social advindo pelo próprio declínio da função paterna, e onde o aluno é o sintoma da família. A relação com a castração é um sintoma que o aluno levará para a escola e o professor irá se deparar com a necessidade de saber lidar. Assim o docente se depara a todo o momento com a castração do seu aluno e a sua, dentro do contexto escolar de sala de aula na qual terá vários momentos de trabalho redobrado. Neste contexto Escolar contemporâneo entende-se o quanto a máxima Socrática do “Conhece-te a ti mesmo” vem em auxílio do equilíbrio do professor. A análise desse estudo evidencia que o docente não está apto a receber esse aluno contemporâneo e adoece emocionalmente. Assim temos um período no qual a histeria toma conta da maior parte do discurso dos nossos docentes. O professor da contemporaneidade então vem falando dos seus próprios medos e fracassos. Fala de si e de suas questões que esbarram nas de seus alunos. Está fracassando? Não! Apenas é importante olhar para as mudanças sociais. Os novos sintomas que vem surgindo com o novo século. O docente sofre do mal estar do encontro com outro que trás consigo seus sintomas e sua cultura diversa. Estamos em um momento social que a família se encontra perdida do seu papel de formadora e a escola também quanto ter o papel de transmitir o conhecimento o aluno.  E o que fazer? Repensar a formação do docente onde ele possa se haver com o seu papel de transmissor do conhecimento, estando emocionalmente, preparado para se relacionar com seu aluno, sua família? Como isso pode acontecer? Para esse fim pedagogia e psicanálise podem caminhar juntas em prol do bem da educação.

Palavras-chave: mal-estar docente, apatia, desmotivação e seus sintomas psicossomáticos – angústia, fobias, crise de pânico, castração

  1. O refugiado: um estranho inclassificável

(Naira Ludmila Gonçalves)

 

O presente trabalho pretende, a partir da pesquisa bibliográfica, levantar uma reflexão sobre a atual condição dos refugiados sob a perspectiva paradoxal do unheimlich. Segundo o último relatório da ONU, em 2017 chegava a 6,8 milhões a população de refugiados no mundo. As estimativas oficiais indicam que a tendência é o crescimento desse número. Mas por trás das estatísticas estão ocultas histórias permeadas de violência explícita sofrida por aqueles que são forçados ao exílio. O indivíduo que é forçado a se tornar migrante, em sua estrangeiridade, é inclassificável: não é de lugar nenhum, não é cidadão nem é estrangeiro; está na fronteira entre o ser e o não-ser, pois quem ele era não existe mais. O termo unheimlich de Sigmund Freud destaca o estranho como ambivalentemente familiar, o que conduz a concepção psicanalítica da condição humana paradoxal do eu dividido, discordante, diferente de si mesmo, que se traduz no fato de que o objeto que é ”estranhado” vive dentro de todos. Esse contexto de rejeição do Outro (o estranho) é evidenciado na seletividade da lei do exílio. O direito humano ao refúgio não é uma condição objetiva universal. Não há um consenso legal internacional, mas um posicionamento moral de quem o concede. Nesse sentido, retomaremos a experiência bem-sucedida da cidade italiana de Riace e articularemos a passagem do “outro” a estrageiridade observando as considerações de Freud sobre o “Mal-estar na civilização”. 

Palavras-chave: Refugiado, Unheimlich, Violência, Estranho, Estrangeiridade.

  1. O Conceito de Masculino em Freud e sua relação com a escolha da neurose

(Rodrigo Martins / Magali Milene Silva)

 

Este trabalho é parte da monografia apresentada ao programa de pós-graduação Especialização em Teoria e Clínica Psicanalítica da Universidade José do Rosário Alzira Vellano – Varginha-MG. Propõe investigar como o conceito de masculino é empregado no desenvolvimento da descrição etiológica das neuroses nos textos primeiros de Freud. Considera-se que essa pesquisa poderá contribuir para com reflexões a cerca da constituição do sujeito que se situa do lado homem da partilha dos sexos. Os questionamentos iniciais foram: qual a concepção de masculino para Freud no passe em que elabora suas ideias sobre a causa das neuroses? O sexo do individuo determina, ou lhe atribui pré-disposição para uma ou outra neurose? Pode-se falar em neurose masculina? Assim, estão sendo analisadas publicações iniciais com o objetivo de identificar e esquematizar essa relação.  O trabalho, ainda em andamento, pode localizar que a etiologia das neuroses é tema essencial nos primórdios e no decorrer da emergência da Psicanálise. Inicialmente são divididas em dois grupos: neuroses atuais e neuropsicoses de defesa. Sobre o primeiro grupo Freud estabelece uma etiologia distinta entre homens e mulheres, enquanto que o segundo, uma vez que são formas de defesa sobre representações incompatíveis relacionadas à vida sexual do sujeito, demonstram o masculino enquanto um posicionamento assumido durante uma experiência sexual, anterior à puberdade, de forma ativa podendo ocorrer em ambos os sexos. 

Palavras-chave: Psicanálise freudiana, masculino, neuropsicoses de defesa, neuroses atuais.

  1. A constituição do sujeito de Freud a Lacan

(Suzane Ramos Maritan/ Janilton Gabriel de Souza / Roberto Lopes Mendonça)

 

O presente trabalho constituiu uma revisão de literatura na qual se procurou abordar as relações do complexo de Édipo com a castração e suas implicações no sentimento inquietante proposto por Freud (1919/2010). Nesse contexto são apresentadas as teorizações de Freud a respeito da sexualidade infantil e escolha objetal, assim como a leitura lacaniana dos três tempos do Édipo e do estádio de espelho. O complexo de Édipo é um operador simbólico que ordena a diferença sexual através da articulação com o complexo de castração, sob a vertente da lógica fálica. Na teoria freudiana vemos que o complexo de castração, momento em que ocorre a angústia devido à percepção da diferença sexual e da falta do pênis na mulher, traz à tona o retorno do recalcado e faz emergir o sentimento do inquietante, pois remonta a algo recalcado e há muito tempo conhecido. Em Lacan temos o complexo de Édipo dividido em três tempos: no primeiro a criança se identifica como aquela que é o objeto de desejo de sua mãe, ou seja, como sendo o falo, ficando presa nessa relação especular; no segundo a criança se depara com a castração materna, desde que o pai se afirme em sua presença privadora, fazendo com que ela se questione entre ser ou não ser o falo; por fim, no terceiro tempo, muda-se da posição de ser o falo para a de ter, no qual o pai intervém com a metáfora paterna. Enfim, Freud e Lacan, com os seus trabalhos, demonstraram o caminho tortuoso da constituição de um sujeito desejante.                                                                    Palavras-chave: Complexo de Édipo. Castração. Constituição do sujeito. 

  1. Das fronteiras do divã: a política da direção do tratamento e a nova modalidade de atendimento à distância

(Tatiane Regina Assis Sousa / Magali Milene da Silva)

 

O presente trabalho tem por objetivo investigar implicações éticas e técnicas, sobre o plano de fundo da Psicanálise, no que concerne à nova modalidade de atendimento à distância, liberada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) em novembro de 2018. Atualmente, tendo em vista o amplo desenvolvimento tecnológico e seu instrumental crescentemente pragmático e imediatista, podemos nos questionar sobre o papel da clínica psicanalítica nesse contexto, isto é, sobre como a função de escuta inaugurada por Freud se faz necessária para as demandas que englobam a clínica hoje.  Assim, buscaremos tecer o entrecruzamento entre a política da direção do tratamento proposta por Lacan e a concepção freudiana sobre a experiência psicanalítica do Unheimlich. Guiando-nos pela seguinte implicação: Em que medida se pode considerar a modalidade de atendimento online, um sintoma de recuo diante do estranho na eminência da falta? Qual o lugar que o ato analítico viabiliza nesse novo campo? Para tais construções, propomos percorrer alguns textos freudianos sobre a técnica, bem como o texto A direção do tratamento e os princípios do seu poder (1958/1998) de Jacques Lacan, tencionando discussões que integre o eixo temático: Clínica Psicanalítica: A direção do tratamento e a ética.  

Palavras-chave: Direção do tratamento, política, Unheimlich, atendimento à distância, atendimento online.

  1. 23. A importância da relação mãe-filho na constituição subjetiva da criança com deficiência

(Thais Aparecida Santos)

 

O artigo tem como objetivo compreender como se constitui a relação mãe- filho na deficiência, no qual, se articula o estranho e o familiar, pressupondo, ao mesmo tempo, algo tão familiar na condição de se tratar de um filho e algo tão estranho quanto ao descobrimento de alguma deficiência.  Para tanto, é apresentada a interlocução entre o conceito “estranho familiar”, elaborado por Freud em 1919, com o propósito de elucidar os desdobramentos decorrentes ao estranhamento da mãe diante de seu filho deficiente.  Além disso, analisa-se como a nomeação da criança pelo significante deficiente, pode inviabilizar a constituição de novos significantes que possam relativizar o significante criança deficiente e situá-la para além da deficiência num campo de possibilidades subjetivas.  

Palavras-  chave: Relação mãe- filho. Deficiência. Constituição subjetiva.

  1. 24. Um estranho no CRAS: A psicanálise entre fronteiras

(Thayane Bastos Moura Dias / Laura Resende Moreira)

O tema do X Fórum Mineiro de Psicanálise nos convida a pensar sobre o desafio ético da implicação do sujeito do inconsciente nos espaços da cidade. Assim, nos deparamos com o conceito de unheimliche que em seu potencial teórico e, porque não político, pode ser explorado no campo do qual somos chamadas a falar. A noção do conceito diz de algo que é estranho e, paradoxalmente, nos é familiar. Algo que não foi ainda possível reconhecer como sendo próprio, o que nos remete a algumas questões as voltas da instituição.  (FREUD, 1919-2010) Importante ressaltar aqui que essa reflexão é fruto de inquietações oriundas da prática nessa instituição em interlocução com as pesquisas de mestrado das autoras que tiveram como objetivo refletir sobre as possíveis contribuições da teoria psicanalítica para o campo das Políticas Públicas. Dessa forma, nossa reflexão é embasada fundamentalmente pela PNAS (suas diretrizes e objetivos) em consonância com uma abordagem profissional fundamentada nos conceitos psicanalíticos, principalmente de Freud e Lacan no que tange à teoria do sujeito e da ética do desejo.

Palavras-chave: CRAS, Assistência Social, Psicanálise.

  1. 25. O pai em Freud: Uma visita ao caso do pequeno Hans

(Vanessa Oliveira Silva Simoni / Magali Milene Silva)

Atualmente, muito se tem dito sobre a falência da família contemporânea e em especial do pai em cumprir seu papel na transmissão. Mas, a psicanálise nos autoriza a concordar com essas críticas? O que se transmite psiquicamente de pai para filho?   Freud acessava esse pai através do discurso de seus pacientes, de forma que o pai que entra em análise, é antes, de mais nada, o pai das fantasias inconscientes. Freud inventa a Psicanálise ao dar estatuto de realidade psíquica aos relatos de suas pacientes, e é como realidade psíquica que podemos escutar esse pai. Revisitando o caso do pequeno Hans, passando pelo Totem e tabu (1913/1973) e o Complexo de Édipo  (1910/1996), é possível articularmos a função paterna em Psicanálise e como se opera a castração.  Hans, uma criança que passando pelo complexo de Édipo, deseja se livrar do pai para dormir com a mãe. Um complexo que se fixou nas férias de verão, tendo o  pai ausente por diversas vezes, um desejo de não somente desfrutar da ausência do pai, mas querer vê-lo morto. A espontaneidade do pequeno permitiu a Freud se aproximar das cenas sexuais que envolvia o complexo de Édipo, o tema da fobia, as fantasias, o complexo de castração, o incesto. O pai entra na relação mãe-filho,  como o que intervém nesse incesto, como uma figura repressora, intervindo no incesto e o combatendo no plano da fantasia. Porém esse ideal de pai para Hans falha, pois esse pai é também castrado, um pai edípico, falha em interditar o incesto e castrar o pequeno, tendo como substituto o cavalo, um significante que funcionou como operador simbólico, permitindo a castração.

  1. Dos (des)caminhos entre Autismo e Subjetividade à extimidade da sexualidade

(Wericson Miguel Martins)

 

 É-nos estranho e angustiante estar diante de pessoas que parecem recusar o mundo humano e suas relações, algo que nos é tão íntimo e familiar. Angustiante, principalmente porque não podemos ficar indiferentes a este quadro; visto que, ‘apesar de tudo’, os acometidos por ele são humanos, assim como nós. O presente trabalho pretende propor reflexões acerca da clínica psicanalítica do autismo, do lugar do analista e dos descaminhos da subjetividade à extimidade da sexualidade. Extimidade que, em certo sentido, faz-nos lembrar de Unheimliche, descrito por Freud em 1919; o qual nos permitirá situar este trabalho. Para tal, farei alguns recortes necessários quanto às proposições diagnósticas e medicamentosas (assim como suas implicações) que têm poder classificatório e decisório; sobre a direção do tratamento e a necessidade de escutar o inaudível, sobre as contribuições de psicanalistas que atuam na clínica do autismo e da proposta bullingeriana, quanto às representações corporais e os aportes necessários para a interação do corpo com seu entorno, sobre a chegada da puberdade e, com ela, a sexualidade, vista de forma equivocada, soterrada por paradigmas e até mesmo negada, nos adolescentes que se encontram no Espectro do Transtorno Autista. Por fim, sobre a experiência clínica do Projeto Acompanhamento Pais-Crianças, do NEPE. Se somos seres de linguagem, a linguagem é o lugar onde existimos, onde somos. E é a partir desse lugar, que se estranha. 

Palavras-Chave: autismo, estranho, inquietante, extimo, sujeito, diagnóstico, desenvolvimento, integração-sensorial, sexualidade, infância e adolescência, clínica psicanalítica, medicalização, patologização.

  1. Transferência: Uma possibilidade de reinvenção diante a estranheza da clínica psicanalítica.

(Cláudia F. Melo Rodrigues / Lorena dos Reis Gonçalves/ Ricardo Luiz Alves Pimenta)

A transferência é um fenômeno universal e encontra-se nas diversas configurações e relações humanas, caracterizando-a como um dos conceitos fundamentais que sustentam a teoria e a prática psicanalítica. Freud afirma que este fenômeno ocupa um lugar significativo no tratamento pela psicanálise, retratada na relação analista-analisante, o que faz da transferência uma das condições do tratamento. Por este motivo, o referente trabalho pretende abordar a ética da psicanálise, por meio do manejo da transferência na direção do tratamento. Freud, com assertividade afirmou que no percurso de uma análise a transferência se coloca como uma possibilidade de reinvenção frente ao estranho familiar enquanto repetição do diferente que nos habita. Para tal, revisitaremos o conceito de transferência na clínica de Freud e de Lacan, utilizando também de alguns comentadores contemporâneos para melhor compreensão desta pesquisa. Tal percurso se dará através das formulações de Freud sobre fenômeno da transferência, evidenciando a produção inconsciente a partir do conceito da repetição e realidade psíquica. Em seguida, faremos colocações a partir do ensino de Lacan sobre a função do analista e noção do sujeito de suposto saber, a fim de compreender como se dá o manejo da transferência e o lugar ocupa o analista na análise, diante daquilo que é inquietante para o sujeito.  

Palavras-chave: Psicanálise; Transferência; Função do analista; Contemporaneidade.

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