O Fórum Mineiro de Psicanálise, em sua décima edição, mantém “o desafio ético de levar adiante a Psicanálise, para além dos guetos institucionais” (Bruzzi-Curi, 2017). Essa iniciativa, que impõe o desafio de escutar a Psicanálise nas Gerais, ganhou corpo em 1996 com a realização do I Fórum que sustentou a pergunta: “O que se faz, quando se faz Psicanálise?” Desde seu início, trançando entre várias cidades das Minas Gerais, o Fórum mantém o seu propósito de construir espaços de interlocução em torno das questões que são caras aos psicanalistas e aos não analistas implicados com o inconsciente.

Em 2019, Divinópolis receberá o X Fórum Mineiro de Psicanálise. A proposta, dessa vez, é destacar o texto “Das Unheimliche” escrito por Freud em 1919. Em torno dos impasses que esse texto nos impõe, propomos avançar nas questões que tanto nos inquietam no caminho da Psicanálise.

Como grafar em nossa língua um termo que embaraçou o próprio Freud no auge de sua elaboração teórica? Para o título “Das Unheimliche” encontramos a tradução de “O Estranho” e também de “O Inquietante”. Em torno desse artigo, tão atual quanto se tivesse sido escrito agora, o X Fórum Mineiro de Psicanálise traz uma outra via escrita, subvertendo a ordem da língua: o Ex-tranho.

A proposta dessa grafia é demarcar o estrangeiro-familiar que compõe a condição humana. Portanto, nessa mescla, que indissocia estranho-entranha, torna-se bastante interessante que a tradução destaque o “sentimento inquietante” que nos advém frente aos acontecimentos que nos remetem a algo já registrado em nosso psiquismo e que fora recalcado. Dessa maneira, trata-se de algo que nos afetou intimamente e, portanto, deveria ficar no ostracismo, sob risco de provocar grande mal-estar se retornasse.

No mundo contemporâneo, cada vez mais caótico, rapidamente mutante, e que nos permite encontrar acontecimentos e relações que podem fazer acordar aquilo que (nem pensávamos) estava morto, somos impactados pela constatação de que o que parecia tão diferente de nós é, radicalmente, profundamente familiar.

O que fazer? Como lidar com isso que volta: a temida solidão, o temido escuro, a temida morte, a guerra, a violência, a segregação? A Psicanálise se coloca às voltas com esse inquietante, esse Real bruto que nos desafia e diante do qual não podemos recuar. Nessas voltas, esperamos que o X Fórum Mineiro de Psicanálise reúna interlocutores que se dedicam a escutar e acolher cada estranho e acompanhá-lo nessa jornada sem garantias. Abrimos, portanto, o convite para a construção de estudo e discussão em torno desta temática.